Escondido na cobertura daquele pequeno prédio, tendo em suas sangrentas mãos uma espingarda equipada com uma mira telescópica, o matador se preparava para disparar contra Renato.
A bala pegaria o seu rumo, voando velozmente à procura da cabeça dura daquele cidadão que insistia em querer testemunhar contra alguns importantes políticos; surpreendentemente envolvidos numa grossa corrupção.
Genivaldo fora contratado -a peso de ouro- para dar fim à vida de Renato, como de costume com o maior cuidado possível para não deixar qualquer rastro que o incriminasse; coisa que ele sempre fizera com uma grande dose de profissionalismo. O seu coração, não se sabe por que, estava especialmente apreensivo naquele dia. Ele viu pela mira telescópica que uma garotinha aparentando ter uns seis anos de idade aproximou-se sorrindo, pulando feliz no colo de sua vítima. Seu dedo hesitava, apertando levemente o gatilho, enquanto o suor escorria abundantemente pela sua testa. Já havia recebido a metade do combinado pelo serviço. Impossível desistir, ainda mais levando-se em conta que sua mulher estava grávida de gêmeos.
Um bando de maritacas, fazendo uma tremenda algazarra, voava na direção de Genivaldo. Completamente concentrado em sua mira agradeceu a presença das aves que abafariam, com aquela gritaria, o seu disparo fatal. A cabeça de Renato destacada na mira, o suor escorrendo no rosto de Genivaldo e as maritacas se aproximando cada vez mais depressa...
Tudo pronto. O dedo começou a puxar o gatilho com um pouco mais de força; as maritacas já sobrevoavam a cabeça de Genivaldo. Foi quando o destino interferiu decisivamente, usando apenas uma daquelas aves que, já não aguentando mais a sua dor de barriga, despejou a merda quente exatamente sobre a mira telescópica. Cego, Genivaldo pela primeira vez na vida errou um tiro fatal...