Um grito ecoou pela rua escura e mal iluminada, arrepiando até mesmo os gatos que vasculhavam as latas de lixo atrás de sobras... Uma risada sádica e interminável fez-se ouvir em seguida, penetrando como um punhal na imaginação daqueles que por ali passavam... Pouco depois uma enorme sombra cobriu a ruela, subindo em direção à lua cheia respingando vermelhas gotas de sangue. O vento frio uivava como um lobo faminto, soprando sobre as janelas das casas, fazendo com que os meninos e as meninas cobrissem as suas cabeças com os cobertores, para se protegerem de uma possível tormenta. Os pássaros assustados e alvoroçados incomodavam-se com o peso que pairava no ar, prenunciando uma terrível presença a rondar perigosa e ameaçadoramente aquele pedaço da cidade.
O grito, agora mais forte e mais audível, chamava-o pelo nome, desejando lhe dizer alguma coisa de fundamental importância, mas que ele não conseguia entender com clareza como se a língua falada lhe fosse desconhecida.
Foi quando seu pai puxando-lhe o cobertor aproximou-se de seu ouvido e gritou: Acorda vagabundo, o pesadelo vai começar!