Atrás daquela porta maciça, bela e imponente, havia um mistério, um grande mistério... Mesmo avisado da peremptória proibição de sua mãe, o garoto ansiava correr o risco de abri-la.
Numa tarde de domingo, ele -milagrosamente- ficara sozinho em casa. Subiu os degraus da escada, que apesar de seus passos cuidadosos, rangiam como se estivessem a gemer. Com sua mão trêmula de emoção abriu lentamente a porta do sótão... Acesa a luz, uma enorme surpresa: O quarto estava vazio... Limpo, muito limpo, mas completamente vazio...
Moço já feito, indagou-lhe -curioso- sobre o misterioso cômodo. Sua mãe, abrindo um sorriso, disse: - Aquele quarto foi o grande tesouro que deixei para você e seus irmãos. Ele vos aproximou do desconhecido, do desejo de descobrir quem sois vós. O vazio do quarto despertou em vossos inconscientes o desejo de entender o por quê das coisas, o gosto pelas perguntas e a busca incessante para compreender o mistério da vida. Continuando, falou: - Eu sabia perfeitamente que era desobedecida por todos vocês; sabia até mesmo quando cada um havia cometido a peraltice de contrariar a "minha vontade", e, quando isso acontecia, era uma grande festa para o meu coração.