O garoto acabara de nascer, mas o mundo estava prestes a se acabar. Tudo desmoronava e o ar já era irrespirável; a comida extremamente escassa, a água chegava a conta-gotas, já não tomávamos banho... O cheiro de morte pairava sobre a cidade, e aquele clima de "farinha pouca, meu pirão primeiro", imperando na mente e no coração das pessoas.
O mundo estava no fim, mas todos queriam morrer com a barriga cheia, com a sede saciada e, por incrível que possa parecer, ainda buscavam -como se fosse um vício- se apropriar do dinheiro e das jóias que encontravam nas casas menos protegidas da cidade.
E o garoto nascera com os dias contados, pensou a sua mãe com lágrimas nos olhos -olhando para o marido- que, entendendo a sua dor e o seu pensamento, lhe disse, também com os olhos marejados: Todos nós nascemos com os dias contados...