Yvan estava deitado em seu quarto, vendo a noite debruçada na janela aberta, espionando seus pensamentos. Ele divagava sobre suas dores de amor, deixando a imaginação pintar em sua mente os traços de Luizze, seu corpo, seu cheiro, seu jeito único de ser. Suspirava entre uma fisgada e outra de paixão.
Quase adormecendo, com as vistas semi-cerradas, Yvan sobressaltou-se ao notar algo invadir o quarto vindo pela janela e que, assim, repousou atrás da cômoda. Ele levantou-se rapidamente para investigar o que seria. Deparou-se com um pássaro estranho, todo branco e de olhos muito vermelhos.
Yvan, ainda assustado, ficou fitando a ave que, num passe de mágica, transformou-se em uma pequena bola de luz que se expandiu e expandiu até recompor-se como uma figura delgada e luminosa, com os traços do rosto indefinidos e braços muito longos. Aquilo, fosse o que fosse, parecia ter saído de um conto de fadas.
- És um anjo? – indagou Yvan.
- Não! - disse o estranho ser com uma voz gutural, porém, muito meiga.
- És de outro planeta – tornou a perguntar Yvan.
- Não! – repetiu o ser.
- Quem és tu, então?
- Pouco importa que eu seja. – disse o ente luminoso com tom de autoridade – Apenas saibas que aqui estou para atender-te três desejos. Não podes, contudo, desejar um número maior de desejos, ou vida eterna ou nada que saibas irá prejudicar outra pessoa. Fora isso, és livre para pedir o que quiseres, para ti ou para outrem. A mim, por outro lado, é permitido advertir-te apenas uma vez, caso faças algum desejo que te prejudique. Tuas resoluções devem ser feitas na próxima meia hora porque, depois disso, vou-me embora e tu perdes tua chance.
- Três desejos? Assim, sem mais nem menos? Eu não! E se tu fores o diabo e estiveres me tentando?
- Não sou o diabo! Além do mais, nada estou a pedir-te em troca.
- Mas por que eu?
- Se quiseres saber isso, realmente, te advirto que estarás consumindo teu primeiro desejo. Por certo, já consumi eu a faculdade de advertir-te por uma vez. Portanto, não mais o farei de ora em diante.
- Hum! Difícil, assim. – disse Yvan, enquanto matutava o que, afinal, iria pedir.
- O tempo corre! Não te percas em divagações. Afinal, sabes ou não o que desejas?
- Bem! O primeiro desejo nem tenho muito que pensar. Quero que Luizze, a mulher que amo, se apaixone por mim. – disparou Yvan em tom entusiasmado.
- Feito! Ela já está, neste instante, com tua imagem na mente e concluindo que tu, realmente, és o homem de sua vida. – respondeu imediatamente o ser.
- Puxa, vida! Que maravilha! Até quem enfim Luizze será minha e poderemos ficar juntos. Tu não imaginas o quanto eu desejo que ela seja feliz...
- Feito! Qual teu último desejo? – disse a entidade interrompendo a fala de Yvan.
- Como “feito”? Eu não pedi nada, ainda! – protestou Yvan.
- Tu não disseste “desejo que ela seja feliz”? Eis aí teu segundo desejo que, aliás, também já foi providenciado. Neste exato instante ela está voltando atrás em sua decisão e te tirando definitivamente dos planos amorosos. Para que ela seja feliz deverá desposar outro homem.
- Espera um pouco? Tu falaste que eu não poderia fazer nenhum desejo que prejudicasse aos outros. Por que me concedeste o primeiro desejo se isso não traria felicidade a Luizze? – rebateu Yvan.
- Tu não podes fazer pedidos que, de antemão, já saiba serem prejudiciais a outrem. Os pedidos feitos de boa fé, sem teu conhecimento quanto ao dano a outras pessoas, são válidos. Assim, já esgotaste dois desejos. Agora, resolve o que vais pedir em derradeiro.
- Mas que coisa! Eu até poderia repetir o primeiro pedido e desfazer o segundo. Mas aí Luizze não seria feliz. Mas e eu? Como fico? Eu e minha boca grande. Se eu tivesse ficado quieto não teria estragado tudo pedindo algo sem saber que já era um desejo.
- Sinto informar que teu tempo está quase no fim. Decide-te logo!
- Calma! Preciso pensar. Já fiz uma bobagem e não quero desperdiçar meu último pedido.
- Estou calmo. Quem está nervoso és tu. Recebeste uma grande oportunidade e estás a desperdiçá-la com tagarelice e lamentações. Tomar uma decisão não deveria ser tão difícil.
- Ah! Tu me pressionas demais. Não é todo dia que uma chance dessas aparece e, como eu disse, já fiz bobagem. Puxa vida! Gostaria que tudo recomeçasse do início e que essa história de desejos fosse diferente. – lamentou mais uma vez, Yvan.
- Feito!
Quase adormecendo, com as vistas semi-cerradas, Yvan sobressaltou-se ao notar algo invadir o quarto vindo pela janela e que, assim, repousou atrás da cômoda. Ele levantou-se rapidamente para investigar o que seria. Deparou-se com uma folha seca de mangueira pousada no assoalho. Voltou para a cama e foi dormir sonhando com Luizze.