Delícias de um amor proibido
Naquela manhã, somente uma luz rosada no céu indicava o prenúncio de um sol vigoroso pronto a despontar. O ar fresco recheava o ambiente enquanto um silêncio imperava ainda sonolento. Diante da porta entreaberta, Roberto lançou olhares desconfiados aos dois lados do longo corredor antes de entrar resoluto.
Nesse instante, já se sentindo mais seguro, fechou a tranca e, de costas para a porta, mãos espalmadas ao lado do corpo, sentiu as gotículas de suor que começavam a brotar-lhe na testa e nas têmporas. Agora, a adrenalina, percorrendo os tortuosos e inevitáveis caminhos dentro de seu corpo, já provocava seus efeitos: coração palpitante, vista turva, respiração ofegante...
Não era à toa que Roberto assim se apresentava já que, em várias outras oportunidades, por muito pouco, ela já quase o havia flagrado em suas aventuras idílicas. Ela, dominadora, ciumenta, desconfiada, em muitas oportunidades já havia advertido Roberto sobre as conseqüências que lhe adviriam caso ele ousasse cometer aquilo que ela não tinha provas para confirmar, mas que sua intuição feminina denunciava incessantemente.
Ele a temia, é certo. Um temor reverencial, incontrolável e, até então, intransponível, fruto de uma dependência emocional quase patológica. O terror de que ela o descobrisse em sua aventura proibida, entretanto, agora cedia terreno àquela atração maior que ele. O dilema de Roberto: acatar os limites éticos e morais que o temor lhe impunha ou lançar-se desconcertado nas chamas tentadoras daquela paixão que o consumia.
Mas ali estava ele ainda meio titubeante, porém resolvido a levar adiante tudo quanto planejara e, a certeza de que era impossível retroceder só veio quando vislumbrou o doce e lindo semblante de Belinda.
Ah! Belinda. Olhos verdes amendoados, nariz bem feito, faces rubras e lábios carnudos contornando um sorriso encantador. Ao vê-la sorrindo com aquelas feições meio angelicais, meio diabólicas, o coração de Roberto disparou mais forte ainda. Com certeza, Belinda era alguém por quem valia a pena arriscar-se.
Provocativa como sempre, Belinda continuava calada, só que agora se punha sentada, com suas longas pernas projetando-se de um corpo torneado pelos deuses. Roberto aproximou-se e a apertou com força contra si, olhos fechados, lábios entreabertos.
De repente, ao reabrir os olhos, a visão recuperada de Roberto deparou-se com aquela figura feminina já deitada, nua e implorando com os olhos que a paixão fosse sobre ela derramada. Ele não podia mais resistir e, nesse instante, já tomado de paixão e desejo, ofegava mais e mais, ruminando no corpo e na alma o prazer latente, prestes por explodir.
No exato instante em que Roberto consumava sobre o lascivo corpo de Belinda a expressão maior de sua paixão, ouvem-se passos no corredor. Roberto em pânico já sabia: ela chegara e estava prestes a colhê-lo em plena transgressão.
– Abra esta porta, Roberto! – vociferava ela enquanto estocava a madeira com os punhos.
– Não posso, ainda. – retrucou Roberto, com a voz ainda trêmula.
Num canto, Belinda jazia inerte, nua e calada. Inexpressiva, agora, mesmo diante da iminência de Roberto ser desmascarado.
– Abra esta porta, já disse! O que você está fazendo aí? – insistiu aquela voz inquisitória.
– Já vou abrir. – murmurou Roberto ainda atordoado e sem saber o que fazer.
– Roberto! – gritou ela – Abra já esta porta que seu pai precisa entrar no banheiro antes de sair para o trabalho.
Incontinente, Roberto ajeitou as calças novamente na cintura, fechou a revista com as fotos de Belinda e colocou-a por dentro da camisa. Abriu a porta e, sob os olhares acusadores de sua mãe que agora não mais berrava, saiu com a naturalidade mais disfarçada que lhe foi possível simular. No dia seguinte, mais uma vez, ele iria transgredir as regras e o faria por Belinda, sua paixão inevitável. Um amor proibido, sim. Mas uma delícia de amor!