TOUR PELO CERRADO

TOUR PELO CERRADO

 

 

Sempre que vou na roça de meu irmão, onde foi de meu pai e passei minha infância, gosto de saracutear pelos campos. Assim que tomo o café da manhã, saio estrada afora. Geralmente as 7 horas, pois levanto antes das 6. Meu itinerário começa assim: saio do alpendre da velha casa, passo pela porteirinha que fica bem ao lado do pé de gameleira, que vamos combinar, nessa época de chuva fica belíssima. Houve um tempo que tinha um “pé atrás” com gameleira , em razão de umas estórias que meu avô paterno contava sobre pessoas antigas que enterravam tesouros ao pé delas. Daí elas ficavam assombradas. Bem, fosse assim, meu pai não teria plantado uma bem perto da cerca do curral e, garanto, não enterrou tesouros ao pé dela não.

( pé de gameleira)

 

Depois da gameleira, passo perto do pé de eucalipto que eu e meus irmãos ajudamos meu pai a plantar. Altíssimo e imponente que só ele, fica do lado esquerdo de quem chega, bem perto de um mata-burros e quase ao sopé do espigão. Adoro ver sua copa balançar naqueles dias de ventania. E as vacas adoram se deitar debaixo dele de tardezinha ou de manhã.

 

( pé de eucalipto)

 

Aliás, como as vacas estavam todas ali pela grama, inclusive um boi nelore enorme, tive que passar bem de mansinho, meio de longe, para elas não me estranharem. Mas deu tudo certo e segui.

 

 

Já seguindo pela estradinha, bem de lá da cerca de arame farpado avisto o pé de cagaiteira. Esse pé de cagaiteira já cliquei em época de florada, todo branquinho. Incrivelmente lindo. Ele é bem antigo, pois eu era criança ainda e ele já existia. Agora em novembro que estive lá, já tinha passado a florada e também a época das frutinhas que são uma delícia. Ficam bem amarelinhas e são chamadas de cagaitas. Já comi demais dessas frutinhas a caminho da escola, que chegava a dar dor de barriga.

 

( pé de cagaiteira)

 

Em seguida a estradinha faz um pequeno declive ou aclive, depende se estamos indo ou vindo. Para mim que estou indo, é declive.  Sempre chamo esse lugarzinho de encosta. Do lado direito fica minha paixão: a enorme árvore pau d’óleo, musa de muitos de meus versos, inclusive o terceiro poema que fiz na vida.  Belíssima e bem antiga, pois, já existia no tempo de meus bisavós. Debaixo dela, meu pai guardava nosso carro de bois e eu e meus irmãos fazíamos gangorra em seus galhos. Ele fica bem perto da cerca do quintal. 

 

( pau d'óleo)

 

Desço a encosta e vou seguindo. Ah, ia esquecendo da moita de piteira do meu lado esquerdo, logo depois do pé de pau d’óleo. Aliás são várias moitas. Belíssimas, Já as fotografei nem sei quantas vezes.

( moita de piteira)

 

Logo depois, bem no final da leve encosta, a gente já chega onde era o antigo val. Em meu tempo de criança só se passava nele com pinguela, pois existia água e um poço largo, embora não tão fundo. Agora secou completamente. Era nesse val que buscávamos água para tudo lá em casa e também mamãe lavava roupas nele. Mais para cima tinha um poço bem mais fundo ainda e a gente até nadava lá e pescava também. Agora passa a estrada para carro e nem sinal de água mais.

(onde era o antigo val)

 

Atravessei o antigo val e fui subindo um pequeno aclive. Sempre observando tudo em volta. Logo em uma curva perto de uma grota já se pode ver as infindáveis Dicranopteris flexuosa pelos barrancos. Claro, só falei esse nome porque pesquisei. O nome popular não sei, mas dizem que é samambaia de barranco.  Quando criança e brincava de casinha, imaginava que era peixe frito, talvez, devido as folhas duras parecendo espinhas. Cortava em pedaços e servia em um prato. Coisas de criança. Claro, não comia. Só fingia.

 

(Dicranopteris flexuosa)

 

A estrada que sigo chega até onde era uma grota e antigamente só se passava a pé. A gente descia lá embaixo e subia. Quando criança eu morria de medo de passar lá a noite. Porque falando sério, a gente passeava nos vizinhos à noite e a pé. Claro, a gente sempre levava uma lamparina a querosene. Bem, depois o povo da prefeitura encheu a grota de terra e colocaram manilhas para a água da chuva passar. Agora passa carros tranquilamente. Assim que descambo, à minha esquerda deparo-me com uma planta que sempre me fascinou por dar um fruto, ou flor, não sei bem, em forma de pompom. Sabe aqueles pompons de lã? Em minha pesquisa descobri que o nome científico é Macairea radula. Depois do click e tocar o pompom, segui.

 

Logo à minha direita encontrei um pé de araçá.  Estavam verdes, infelizmente. Quem conhece sabe como são deliciosos os araçás do cerrado. A caminho da escola não sobrava um.

 

( pé de araçá do cerrado)

 

Poucos metros à frente da estradinha tem uma interseção em “Y”. Decido seguir a minha direita e chegar até a ponte que fica sobre o córrego. Sobre essa ponte, como é bem alta e não tem proteção de lado, nunca arrisquei passar por ela de carro. Não passo nem que a vaca tussa até porque tem um mata-burro antes bem numa curva e logo já é a ponte. Vai que erro essa curva. Credo. Bem, vou seguindo sempre observando aqui e ali. Uma árvore que me chamou a atenção foi o pé de murici à minha direita. Me chamou a atenção porque fazia tempos que não via um com frutos. Este estava carregado de frutos. Verdes infelizmente. A caminho da escola também não sobrava um.

 

( Murici)

 

Seguindo adiante, bem antes de uma curva (aliás depois dela já é a ponte sobre o córrego), bem à margem direita da estrada, vejo um lindo pé de coqueirinho- do-campo. É chamado também de palmeira butiá. Sempre admirei essas palmeirinhas anãs. Tempo de coquinhos, à caminho da escola, falando sério, não sobrava um. Aliás, em se tratando de frutos do cerrado eu e meus irmãos aproveitávamos tudo à caminho da escola.

 

( coqueirinho-do-campo)

 

Depois de verificar se não tinha coquinhos na palmeira, virei a curva e cheguei até a ponte. Olhei lá embaixo a água do córrego correndo mansa entres os barrancos. Logo abaixo tem um poço fundo onde eu e meus irmãos costumávamos nadar. E tinha também uma pedreira belíssima. Da próxima vez quero ir lá. Aliás esse córrego era nossa alegria. Vivíamos saracoteando pelo seu leito. Bem, não atravessei a ponte. Do lado de lá já são terras de meus primos.

 

( ponte sobre o córrego)

 

Volvi e segui de novo pela estrada. Quando cheguei novamente na interseção em “Y”, não voltei para casa, mas resolvi subir a estradinha em um declive bem acentuado. Nessa estrada passa o ônibus escolar. Logo à minha frente, do lado esquerdo, um galho pendia sobre a estrada. Por isso parei e observei melhor. De longe não era algo que chamava a atenção. Mas de perto percebi quando fechada, a flor era avermelhada e parecia mesmo uma pimenta. Quando aberta era um leque de flor branca. Só depois fiquei sabendo que se chamava pimenta-de-macaco, ou pindaíba do cerrado.

 

( pimenta de macaco)

 


PS.: o tour segue na próxima postagem

 

 


IMAGENS: ACERVO PROPRIO.  SOBRE AS PLANTAS QUE CITEI NESSE CONTO, CASO QUEIRA SABER SOBRE ELAS CLIQUE NO LINK DEPOIS DO NOME.

 

GAMELEIRA: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gameleira

EUCALIPTO: https://pt.wikipedia.org/wiki/Eucalyptus

PITEIRSA: https://pt.wikipedia.org/wiki/Furcraea_foetida

CAGAITEIRA:https://pt.wikipedia.org/wiki/Cagaiteira

PAU D'ÓLEO: https://pt.wikipedia.org/wiki/Copaifera_langsdorffii

DICRANOPTERIS FLEXUOSA : https://pt.wikipedia.org/wiki/Dicranopteris_flexuosa

PLANTA COM POMPOM:  ?

ARAÇÁ DO CERRADO: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ara%C3%A7%C3%A1-do-cerrado

MURICI: https://pt.wikipedia.org/wiki/Byrsonima_crassifolia

COQUEIRINHO-DO-CAMPO: https://museucerrado.com.br/sistemas-biogeograficos/flora/palmeiras/palmeira-butia/

PIMENTA DE MACACO OU PINDAIBA: https://www.arvoresdobiomacerrado.com.br/site/2017/04/03/xylopia-aromatica-lam-mart/