ConceiçãoCastro-ChicoDoCrato-oPOETAeAreceita

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ChicoDoCrato, Música, Voz, Violão, Sintetizador, Arranjo, Mixagem e adaptação do texto de Conceição Castro.

Audacity, 000 Rítmo 018+40 em Mí-. Gravação caseira. Gravar em estúdio. Copyright: proibir a cópia, reprodução, distribuição, exibição, criação de obras derivadas e uso comercial sem a sua prévia permissão.

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O poeta é curioso, chega a ser enxerido; vive metendo a imaginação no pensamento alheio. Depois, não contente ,coloca tudo no papel ...

Certa vez um poeta, num consultório médico, sentou-se entre duas madames. Elas falavam de um sapato,elogiavam-no , chamavam-no de glamouroso e divino .O poeta ,então, olvidando-se do sapato, escreve versos sobre o pé.

Depois, essas mesmas senhoras, e o nosso escritor, lindamente invasivo, e poeticamente mal -educado ,travaram outro diálogo no silêncio: Elas reclamavam muito do atraso no horário da consulta e ele pôs-se solitário a questionar sobre a existência do tempo: mais um poema compartilhado e escrito por duas mentes e uma alma.A mente do poeta? ele só usa em ocasiões especiais, como por exemplo para contar degraus de uma escadaria comprida que resolveu fotografar e se imaginar por ela, alcançando paraísos. O resto é só alma,só alma...

Chegou a vez do seu atendimento no consultório médico. Ao ver que as suas palavras e as suas dores ali não teriam berço no tempo, preferiu calar e poetizar, contraditoriamente (como a sua própria natureza) sobre a rapidez dos fatos, e escreveu o seu poema 'Instante".

Ao perceber que o nosso protagonista pisava suave sobre nuvens,o jovem médico,visando encerrar a consulta, fez-lhe a pergunta mais importante daquele grande momento: Entendeu a prescrição?

Saiu o poeta, silencioso e absorto, sem responder a pergunta. A certa altura, depois de andar cerca dez sonhos e vinte indagações , respondeu em voz alta,olhando despretensiosamente para o céu: "Viver dispensa qualquer entendimento'...(Frase de Clarice Lispector)

Bis

E segue o nosso poeta andarilho, até se bater com dois passarinhos num galho de árvore,

que certamente passariam despercebidos, por quem quer que estivesse em busca de uma farmácia.

Mais uma vez ele se intromete no pensamento alheio: Esses bichinhos estão planejando uma viagem,devem estar em lua de mel.Olha como eles se olham...Ei , espera, a fêmea acabou de reclamar algo a seu par, pelo que ouvi, deve ter sido sobre alguma nota musical desafinada em seu canto.

E parou, ali, no meio da rua, e escreveu no verso da sua receita, um poema cujo título foi: "Um homem fora do tom".

O sol estava intenso, o poeta perto de casa, e a essa altura, aquele papel de receita, já todo machucado ,preparava-se para cair na velha gaveta quebrada da escrivaninha de jacarandá, para entre, tantos outros rascunhos , arrumar-se colocar perfume cheiro de tinta e transformar-se num livrinho, o qual, só os que enxergam com a alma irão ler... ou, quem sabe ali mesmo naquela gaveta, ganhar a eternidade...

Chegou.Dirigiu-se ao porteiro do seu prédio ,e ao invés do tradicional boa tarde , disse-lhe: Se podeis abrir um bronze ,a que chamam de porta, , para um poeta cansado,e em seguida entregar-lhe cartas antigas, sois um Deus que tudo pode, pois hoje, tudo que almejo é estar por dentro de tudo.

Os remédios? Ah eles não curam a dor que mais dói; o poeta vai beber poesia, aceitam um gole?

ChicoDoCrato e Conceição Castro
Enviado por ChicoDoCrato em 15/11/2018
Reeditado em 16/11/2018
Código do texto: T6503598
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