Esta canção ,chamada "Alice" foi escrita por mim em maio de 2008, quando a pequena Isabela Nardoni foi assassinada pelo seu pai. o que emocionou a toda uma nação.

Todas as mulheres são "Alices", e os sonhos que idealizam para a serem felizes na vida, e o desfecho que na verdade todas merecem ter.

A alegria e a fantasia de Alice estão presentes na música, a vontade de crescer pelo prisma infantil se projetando para o futuro. O tempo do "faz de conta" é diferente do tempo dos adultos, é o irreal , é o mágico, o que sustenta a essência e se perpetua no coração, para sempre.

Nesta canção existem vários elementos que se fundem; a música "João e Maria" do Chico Buarque e Sivuca, o crime da Isabela , e a genial obra do inglês Lewis Carrol, "Alice no país das maravilhas".

A vontade de ser tudo o que se deseja; médica, professora, bailarina, cantora, falar muitos idiomas, cuidar dos bichinhos do planeta, e outras mil coisas interessantes...e como por encanto das estrelas, fechar os olhos e se tornar realidade.

No mundo de Alice não há dor, e nem tolices, é só meiguices e uma vontade de amar, porque o mundo paralelo do "faz de conta" tudo é possível, realizável, e ...irretocável.

As crianças filtram o que desejam do mundo dos adultos, principalmente dos pais, deixando de lado o que não gostam, mesmo que instintivamente, e esta seleção acontece , por exemplo, quando brincam de casinha ,pequenas donas de casa , mãezinhas para as suas bonecas, fazendo comidinha de capim com pétalas de flores, num ensaio para lá de bonito.

Como também tenho filhas, a minha sensibilidade aflorou no caso Isabela, e o tema vinha sempre na minha cabeça, pois o sonho da menina havia sido interrompido pela falta de amor de um pai cego, e irracional, que não conseguiu ver a "Alice" na sua pequena criança. Uma vida ceifada na mais tenra idade, arrancando os sonhos e a sua conclusão.

O processo de composição funciona com a música levando a letra, como se essa música buscasse as palavras, incitando os verbos para a ação contínua. Nem todas as canções que faço são assim, mas esta foi.

Imagino o cantor "Toquinho" cantando "Alice" , ao violão, pois tem o estilo dele, que aliás gosto muito. A tocaria muitíssimo bem.

Alice é a minha esposa, minhas filhas, e a minha mãe, assim como todas as mulheres que conheci, e de todos os lugares que Deus criou pelo mundo, pois Alice é a essência da mulher, e apesar de eu não ser um Chico Buarque, que sabe decifrar a alma feminina, humildemente procurei me aproximar, e é um apelo a que lhe restituam uma parcela da nossa eterna dívida.

"Alice conta o tempo todo dia,

Que alegria, que vontade de sorrir e de brincar

Alice não alimenta a tristeza, que beleza,

E ela está sempre presente pra cantar.

Brincar com as amigas ,de casinha

No quintal da sua casa, aprendendo a cozinhar

Sonhando que um dia, na magia das estrelas

Uma doutora poderia se tornar,

Cuidando dos bichinhos, e lhes dar muito carinho

Exercícios e vitaminas, pra tomar...

Sonhar em ser atriz, em ser cantora,

Se possível professora, dez idiomas pra falar...

No mundo de Alice não há dor , não há tolices,

É só meiguice e uma vontade de amar...

Alice conta o tempo todo dia,

Que alegria , que vontade de sorrir e de brincar "