Os pés rachados
Na terra seca
Não há colheita
Um grão sequer!
E eu rezei para São José
Mandar chuva pro meu chão
Eu chorei por ver
Meu filho me estender a mão
E eu nada ter para lhe dar.
Olhos cerrados
Plantações secas
Nada na mesa
Um pão sequer
Resistindo vou até
Tá difícil a condição
Acho é que vou ter
Que deixar o meu sertão
Para não morrer neste lugar.
Os pés descalços
Nas ruas pretas
Fugi das secas
Perdi a fé
Hoje, aqui, como um qualquer
Procurando um ganha-pão
É terrível ter
Recebido mais um “Não”
Como viver sem trabalhar?
Olhos molhados
Tudo é tristeza
Luzes acesas,
Arranha-céus
E um contraste tão cruel
Vou seguindo a multidão
Acho é que vou ter
Que estender a minha mão
Para não morrer neste lugar.