Assim que oiei pro céu,
Pro luá do meu sertão
Me escapuliu a emoção,
Entre estrelas a brilhá
O que vi foi Carcará!
Iguaizinho aos de cá.
Intão me veio um cordel.
Que em benção desceu lá do céu,
Qual a força dum gavião
A me abater neste chão.
Chão de poesia tão dura
Iguaizinha minha rapadura
Doce rima que tem fel.
Carcará ia com fome
De gente pra incarcerá...
Parecia aqueles hôme
Que tem lábia, que tem fome
Pra boa gente inganá.
Como os muito que tem cá!
Os memo carcará de sempre
Que tira do trabaio da gente
A força pra se sustentá...
Nas caderas lá dos congressos
Por tantos beco dispersos
Com os home de sempre, espertos!
Que só qué voto ganhá...
Pra mode sê sempre eterno
Ser sempre os mesmo muderno!
Os oculto Carcará.
Carcará tem garra nova,
Inté hoje é gavião
Assombrando toda gente
Não é mais só do Sertão.
Voou pra cidade grande
De terno sempre elegante
E de cartola na mão...
De colarinho branquinho
Douto discurso, afinadinho
Arrebata a multidão.
Carcará quando tem fome
Também é potente avião...
Tem anseio turbinado
Pra mode o povo explorado
Decolá só na ilusão.
Sobrevoa do sul ao norte
Do leste ao centro oeste
Tem toda a paisagem na mão,
Tem todinha a Pátria amada
Nunca, nunca sobra nada
Pro povo das região.
Sobrevoa bem de mansinho
Pra mode devagarinho
Nos inganá a razão.
Carcará aqui é Home
Também "pega mata e come"
A nos deixar sem ação.
Nunca tem indigestão...
No seu farto barrigão!
Foi intão que pedi ao céu
Dentre as estrelas a brilhá
Dentre tanta poluição,
Pra cantar neste cordel
Os horror que vejo cá.
Minhas mágoa pudê acalmá...
Minhas ânsia do coração
Ressequido como o Sertão!
Pra mode as pudê matá
Como nos mata os Carcará...
Nota:parafraseando a obra Carcará do Chico, sempre muito atual, como puderam sentir no meu cordel.