Por um pedaço de pão
negava o medo, fingia sorrir.
Descia para a noite
que era noite
mesmo que fosse dia.
Ignorava aqueles olhos
morenos, suplicantes,
que diziam: “Não vai”.
E descia para a noite
que era noite
mesmo que fosse dia.
Buscava no negro minério
seu pedaço de pão,
desconhecia o mistério
do fundo daquele chão.
E um dia custou bem caro
seu pedaço de pão:
custou o próprio dom
que Deus um dia lhe deu;
custou a própria vida
de quem nunca temeu a morte.
E seu corpo ficou lá,
para todo sempre...
Sem conhecer o mistério
daquele negro minério,
daquela noite
que existia
e que era noite
mesmo que fosse dia.
Poema musicado pelo compositor e músico João Guerreiro, classificado para integrar o CD Encanto da terra - Mostra de Música de Charqueadas - RS - 2008.