“MEUS HERÓIS SÓ MORREM DE TUBERCULOSE”

Luiz Poeta ( Luiz Gilberto de Barros )

Enquanto meus heróis morrem de queda de trem,

Gripe, catapora e meningite também,

Os heróis deles têm hospital particular,

Os heróis deles têm um jatinho para levar.

Meus heróis só morrem de tuberculose.

Enquanto meu pai grita: - Filho, vai estudar !

A escola está falida e eu não posso pagar,

Os heróis deles fazem mestrado na Sorbone,

Os heróis deles são todos netos do Alcapone.

Meus heróis só morrem de tuberculose.

Enquanto eu me amasso na superlotação

Porque comi batata e não paguei a porção,

Os heróis deles têm cela especial

Onde tem fax, tem celular e coisa e tal.

Meus heróis só morrem de tuberculose.

Enquanto meus heróis morrem de inanição,

Procurando no lixo um pedaço de pão,

Os heróis deles bebem uísque com salmão,

Os heróis deles vivem da dolarização.

Meus heróis só morrem de tuberculose.

Enquanto eu levanto meu pobre barracão

E as chuvas de janeiro jogam tudo no chão,

Os heróis deles vivem da especulação,

Os heróis deles em Miami tem mansão,

Os heróis deles não têm com que se preocupar,

Os heróis deles têm cobertura à beira-mar,

Os heróis deles são clientes do Escobar.

Meus heróis só morrem de tuberculose.