MURURÉ

MURURÉ

O uirapuru assobiou três vezes na mata fechada

Folha de tucumã teceu a noite, desenhou a madrugada.

Mas o vento varreu o chão, borboleta virou sentinela

O amor que a terra escondeu, virou lenda nos lábios dela...

Mururé, Mururé!

Floresce de noite, de dia Pajé

Mururé, Mururé!

Amor que o fogo apaga, mas nasce raiz e pé.!

Ninguém viu, e a ninguém cabe,

Mas o rio guarda o beijo que o mundo não sabe...

O caboclo trouxe o sol no peito, a floresta na palma

O quilombo fez dele flecha, mas seu alvo era outra alma

Na canção do Curupira, se escondia um canto de dor

Duas almas viraram mito para poder viver o amor...

Mururé, Mururé!

Floresce de noite, de dia Pajé

Mururé, Mururé!

Amor que o fogo apaga, mas nasce raiz e pé.!

Ninguém viu, e a ninguém cabe,

Mas o rio guarda o beijo que o mundo não sabe...

Saudade é rede vazia balançando no tempo

Medo é facão e enxada, é olhar por trás do vento

Sonho era dançar na chuva, nu de dor e de sorte

Mas o mundo é rio que separa, saudade fingindo ser forte...

Mururé, Mururé!

Floresce de noite, de dia Pajé

Mururé, Mururé!

Amor que o fogo apaga, mas nasce raiz e pé.!

Ninguém viu, e a ninguém cabe,

Mas o rio guarda o beijo que o mundo não sabe...

E quando a lua beija o rio,

Dizem que dois igarapés sussurram baixinho assobio

Nossas águas não se tocam, mas no mar vamos estar

Onde Curupira não reina, e o amor pode morar.

Mururé, Mururé!

Floresce de noite, de dia Pajé

Mururé, Mururé!

Amor que o fogo apaga, mas nasce raiz e pé.!

Ninguém viu, e a ninguém cabe,

Mas o rio guarda o beijo que o mundo não sabe...

O rio chora em silêncio, ninguém vê

Dois olhos d'águas, se misturam crer?