Mãe! Eu volto a te ver na antiga sala,
Onde uma noite te deixei sem fala,
Dizendo adeus como quem vai morrer!
E me viste sumir pela neblina,
Porque a sina das mães é esta sina:
Amar, cuidar, criar, depois perder!
Perder o filho é como achar a morte!
Perder o filho, quando grande e forte,
Já podia ampará-lo e compensá-lo.
Mas neste instante, uma mulher bonita,
Sorrindo o rouba...
E a velha mãe aflita.
Ainda se volta para abençoá-la.
Assim parti e me abençoas-te.
Fui esquecer o bem que me ensinaste.
Fui para o mundo me deseducar...
E tu ficas-te, num silêncio frio,
Olhando o leito que eu deixei vazio,
Cantando uma cantiga de ninar!
Hoje eu volto coberto de poeira.
E te encontro quietinha na cadeira.
A cabeça pendida sobre o peito.
Quero beijar-te a fronte e não me atrevo!
Quero acordar-te, mas não sei se devo!
Não sinto que me cabe este direito!
Eu te esqueci, as mães são esquecidas!
Vivi a vida, vivi muitas vidas.
E só agora, quando chego ao fim,
Traído pela última esperança;
E só agora quando a dor me enlaça,
Lembro que nunca se esqueceu de mim!
Não! Eu devo voltar, ser esquecido, mas...
Que foi!
De repente ouço um ruído, a cadeira rangeu!
É tarde agora!...
Minha mãe se levanta, abrindo os braços!
E me envolto num milhão de abraços,
Rendendo graças, diz: Meu filho. E chora...
E chora e treme, como a fala e ri!
E parece que Deus entrou aqui,
Em vez dos últimos condenados!
E seu pranto rolando em minha face.
Quase é como se o céu me perdoasse,
E me limpasse de todo o pecado!
Mãe! Nos teus braços eu me transfiguro!
Lembro que fui criança, que fui puro!
Sim tenho mãe e esta ventura é tanta.
Que eu compreendo o que significa:
O filho é pobre, mas a mãe é rica!
O filho é homem, mas a mãe é santa!
Santa que eu fiz envelhecer sofrendo.
Mas que beijas como agradecendo toda
Dor que por mim te foi causada!
Dos mundos onde andei nada te trouxe!
Mas tu me olhas num olhar tão doce.
Que nada tendo não te faltas nada!...
O dia da mãe é o dia da bondade.
Maior que todo o mal da humanidade,
Purificada num amor profundo!
Por mais que o homem seja um ser mesquinho,
Enquanto a mãe cantar junto a um bercinho,
Cantará a esperança para o mundo!...
GUIARONE