Contempla no espelho a tua face borrada,
E já nem conheces mais o espectro refletido.
Na língua o sabor agridoce do último beijo.
Alhures o amante, o mal cheiro, a esporrada.
Desliza entre as suas pernas roto corrimento,
Sente o cheiro nauseabundo e o hálito azedo,
De um próximo amante que vem atrevido
E, toca teu corpo como se fosse um queijo.
Para tal desprezo até a morte é boa sina,
Mas a vida, amiúde, exige o sacrifício.
E tu te entregas, qual carniça à rapina,
Já não és mais alguém, simples latrina.
Em sua fisionomia a tristeza se espalma,
Contemplas o Tinhoso e a boca escancarada.
Do pacto mal feito em qualquer encruzilhada,
Ao som de um blues, entregas-te a tua alma.
Mas num fio de vida, enfim te atreves.
O desespero te conduz ao inalcançável.
Balbucia uma oração, assaz, sem frases,
E o amargo veneno, se torna palatável.
Um corpo na calçada de alma ausente.
E o embusteiro-mor perdeu uma guerra,
Pois, o perdão de Deus é competente,
Para livrar na morte, quem vivo erra!
Na sua lápide escreveram, aqui jaz
"Se entregou a tantos e morreu só"
Sem choro, sem pena e sem dó...
Ninguém viu a frustração de Satanás!