Veloz e em disparada rompe o vento.
Segue destemido o garboso garanhão.
O campo aberto é o seu firmamento,
Que lhe firma os cascos ao duro chão.
Não há símbolo maior de liberdade,
Que o resfolegar exausto de um corcel.
Galopando firme o passo da dignidade,
É seu próprio rei, juiz e também bedel.
Lhe deram um nome ao nascer, Pintado.
Nunca, porém, se curvou ao braço.
Percorre a estrada do próprio coração,
Sem dono, sem arreios e sem laço,
Pelos prados e campinas do sertão!
No dorso carrega uma saudade, Estrela
Aquela que deixou n'outras pastagens.
A potranca mais bela dos potreiros,
Ousada, em seu coração afivelou arreios.
Por esse amor um dia cotejou parar.
Caminhar sem pressa sob a bruma,
Deixar que o vento refrescasse a crina
E trotear o passo sem pressa alguma
Mas o corcel e o vento são iguais
Não há como deter-se a epifania
Também o corcel tem a sua sina
E o corisco seguiu seus ideais.
Porém, a Estrela é todo firmamento
E quem ama uma, ama a vastidão
E o cavalo cessou o enfrentamento
E retornou rendido à sua paixão.
Olhou para Estrela com galhardia
E nesse simples olhar deu o recado
Num lépido salto abandonou o cercado
E seguiu seu amado às pradarias.
Agora lado à lado seguiram viagem
Cascos na estrada, ergueram suas crinas
Conjugando em dueto as suas sinas,
E esperando em Deus, novas pastagens!
Portanto, meu amigo, eis o meu recado:
A Liberdade não se opõe ao amor
Mas até a Estrela teve que pular o cercado.
A vida sem ousadia é sem cor e sem sabor.
Não vá deixar o cavalo passar encilhado!