O palhaço e o poeta são anjos do entroncamento.
Habitantes do portal que se chama prelúdio do além.
O palhaço, nos faz rir das nossas próprias mazelas.
O Poeta também, mas a lágrima é o seu condimento.
O palhaço é a loucura admirável, a vida sem pano.
O poeta, a sabedoria palatável, os acordes do piano.
É uma tarefa difícil separá-los em seu âmago.
Assim, em rima, reza a sabedoria popular que:
"De poeta e louco, todos nós temos um pouco".
E ao perder essa graça, instala-se o desânimo.
Esses anjos trabalham com ferramentas diversas.
Um, a saber, o palhaço, é um contador de histórias,
O qual apresenta versões de mundos admiráveis.
E nos ensina a olhar sem máscaras e às avessas.
O outro, o poeta, explora sentimentos mui profundos.
Passeia pelas palavras, pois entende a alma e a letra.
Preso a elas permite o de melhor e pior dos mundos.
Apaga o Sol e a Lua, toca o coração, testa o planeta.
Sintetiza a sabedoria, para comermos o mingau.
Ás vezes usa a rima e usa o verso como seta.
Em outras, deixa o espírito solto ao seu gagau.
Mas, todo poeta é um sábio, profeta e exegeta.
No fundo, o palhaço também é um poeta.
E o poeta é o palhaço que busca o choro.
Não para trazer sofrimento em sua escrita.
Mas alertar do inútil viver sem cor e inodoro.
Portanto, o riso e o choro, são chaves do paraíso.
O palhaço dá o exemplo e o poeta ensina isso.
Só pode almejar o céu, quem viveu intensamente.
Pois se assim não for, pra que viver eternamente?