Em noite de lua dourada
Como outras em janeiro
Rompeu-se a alvorada
E chorei em desespero
Minha mãe, já cansada
Olhou-me tão pequenino
E disse, emocionada:
É prematuro o menino!
Um quilo e oitocentos
De puro filé mion,talvez
Uns trinta centímetros...
Cabia na palma da mão.
Minha mãe não tinha leite
Minha pressa atrapalhou
Tive que tomar o da Nestlê
Que o meu avô comprou
Eu nasci em Icaraíma,
Outro nasceu em Itabira
Parceiros da mesma sina
De versejar e fazer rima
Logo mudamos pra Pérola
E de Pérola pra Xambrê
Cresci guacho em Xambrê
Cidade pequena e linda
No pescoço o estilingue
O calção de brim marrom
Calçando os pés um conga
Nada mais, assim tá bom!
Os rios de águas cristalinas
A Água d'abelha e o Baitira
As margens de areias finas
Quem conhece, te admira
Quão belo foram os dias
Do limiar da existência
E das muitas alegrias
Com olhos de inocência
Com meu avô ao lado
A passear na pracinha
Chupar sorvetes gelato
Ou comer paçoquinha
Na cerealista ali perto
Sempre tinha amendoim
E os pneus da bicicleta
Enchia no Posto Jardim
Aos dez já lia as poesias
Nos livros do abecedário
E tentava algumas rimas
Mas faltava o vocabulário
E na Capital do oeste
Respirando novos ares
Aprendi a ser poeta...
Sou o Kleber Versares
E vivo a fazer versos
Uns com rima, outros não
Mas todos com o propósito
De afagar-lhe o coração