Meu amor me deixou aqui
Nesta estação solidão.
Quem passa olha e sorri
E dá acenos c'oa mão.
Uns meneiam a cabeça
Achando que eu sou louco.
Mas não há quem me impeça
De esperar mais um pouco.
Alguém me deu um pão seco
Comi mas guardei um tico.
Pode ser que ela volte cedo
E venha cear aqui comigo.
No outro lado da calçada
As pessoas vão e vêm,
A estação está lotada,
Onde estará o meu bem?
Vou dormir nesta marquise,
Pra vigiar bem os trilhos.
Se ela chegar, me avise!
Quero entregar-lhe carinhos.
Os sonhos de um andarilho,
Em pouca coisa se estriba.
Só gostaria que os trilhos
Devolvessem minha amiga.
Que o apito da locomotiva,
Fosse uma valsa de núpcias.
O maquinista um escriba,
As curvas da linha, volúpias.
Os comboios seriam filhos,
Cada dormente projetos,
E o infinito dos trilhos,
Seriam netos e bisnetos.
Mas acordei tão sozinho.
Ouço um apito estridente,
Se for você amorzinho,
Venha que estou tão carente.