BOLA PRA FRENTE

BOLA PRA FRENTE

Conheci o Edyr nem sei como nem sei onde. Só sei que começo a lembrar dele no Lago Azul, condomínio onde meu pai tinha uma casa de veraneio. O Edyr Proença passarinhando, ou seja levando seus passarinhos cantores para passear em suas gaiolas e conversando comigo sobre música na casa dele. Lá que mostrei a ele pela primeira vez duas composições minhas: “Silêncio” e “Choro bom” e lá que ele me convenceu que eu era compositor.

Lá que reuníamos todo mês de junho para comemorar o aniversário de sua esposa Celeste. Era uma festa com mingaus e todas aquelas iguarias tipicas da quadra, sem faltar as interpretações musicais dele e de seus amigos seresteiros.

Acredito mesmo que foi pela música que tive meu primeiro contato com ele. A verdade é que logo, apesar da pequena convivência, estávamos nos tratando como irmãos.

Quando ele se foi, a saudade foi grande, mas seu espírito espantava a tristeza que teimava em nos acompanhar.

Acho que foi isso mesmo, pois naquela época muitos de nós sonhamos com ele, inclusive o Eduardo, de um modo bem alegre, tanto que escreveu uma letra, "Bola pra frente", que completei com as quatro últimas linhas e coloquei melodia. O próprio Edu conta melhor sobre ela no livro que fizemos juntos e que foi publicado pela UFPA.

De qualquer modo vale colocar aqui a letra e indicar como podem escutar o Audio da:

BOLA PRA FRENTE

(Almir Morisson e Eduardo Queiroz)

Sonhei com o Edyr

Contando a mais nova

"Tava" num canto da sala

Dizendo pra gente

Enfrenta o batente

Põe bola pra frente

Pois a vida não para

"Tava" até renovado

O distinto trajado

De atleta do Bem

Vinha encestando a tristeza

Batendo na mesa

Boa noite Belém

Impossível tentar

O teu nome apagar

Velho amigo e parceiro

Da emoção de um Re x Pa

De uma seresta de bar

E de um passeio em Mosqueiro

Acordei renovado

Poeta iluminado

Pelas luzes do tempo

Cantando Belém

Acordei encantado

Poeta iluminado

Pelas luzes do tempo

Vivendo no além

Interessante que mesmo com os dez anos de convivência com o Clube do Camelo o Edyr era bem parcimonioso em suas parcerias conosco. Duas comigo, duas com o Dantas, duas com o Eduardo e duas com o Gervásio. Acho que nós é que ficávamos inibidos de interagir com ele. Afinal quem tinha feito Bom dia Belém e outras jóias não era pra ser parceiro de qualquer um.

Coincidência que a última parceria do Edu com ele falava das mangueiras de Belém:

TÚNEL VERDE

(Edyr Proença e Eduardo Queiroz)

Tuas folhas verdes e cheirosas me acenam

Dançando ao vento são pedaços de poemas

Numa raiz de madeirame amarelado

Fêmea nativa da qual estou enamorado

Na tua copa Bem-te-ví sempre a cantar

Uma canção para Belém do Grão-Pará

Versificada pelo Ruy Paranatinga

Bela e faceira como diria Edgar

Teu fruto doce é manjar pelas calçadas

Teu túnel verde Faz Belém se embelezar

Coincidência que seu último leito foi à sombra de uma mangueira ...

Fica em paz Camelo amigo!