UÍSQUE COM MEL

UÍSQUE COM MEL

Premonição? Dizem que existe!

Não sei se foi invenção do Eduardo, mas disse ele que muito antes do Clube do Camelo existir, antes mesmo dele conhecer os companheiros de hoje, sonhou já ser Camelo.

Para os mais céticos é mais provável que seja sonho mesmo. O sonho de um sonho, pois na época nem se pensava em dar ao grupo nome de bicho, quanto mais de camelo!

A verdade é que a figura do Edu sempre gerou uma empatia muito grande. Principalmente pelo fato dele não ter nenhum complexo. Às vezes diz: "Se Deus me fez assim foi para que reparassem bem em mim!". E de fato, se quem ainda não o conhece se espanta um pouco com a diferença, depois que o conhece, vê que não há diferença nenhuma. Ele é um de nós, totalmente integrado ao grupo, e em muitos aspectos mais apto que nós.

Assim é que, mesmo em lugares diferentes, dois Camelos, o Gervásio e o Firmino, quase ao mesmo tempo, resolveram fazer uma homenagem ao Poetinha Dudu.

Um dia chegou o Gervásio ao Firmino, mostrando uma música que tinha começado a compor com aquela intenção.

- Que coincidência. Disse o Fimino. Também estava fazendo a mesma coisa. Vamos juntar as letras, idéias, intenções

e caprichar na homenagem.

Estou inventando o dialogo, mas a ideia foi essa.

Assim acabou saindo um samba a la Chico Buarque,

chamado:

UÍSQUE-COM-MEL

(Gervâsio Cavalcante e Firmino Sousa Filho)

Botei um "sete" no samba

Para a baixaria esquentar

Chamei o poeta que é bamba

Para a harmonia completar

Busque meu amigo no som a inspiração

Faça da poesia o seu bordão

Cante a alegria da vida

Espante a tristeza, enfim

Brote pedaços de rima bem perto de mim

Lembro meu irmão da sua premonição:

Que nasceu Camelo de antemão

Compondo os hinos da vida

Na quarta é bom vê-lo

Abrindo a voz bebendo Uisque-com-gelo

Com um sete cordas no samba

Para a baixaria esquentar

Mais os acordes do Dantas

Põe qualquer poeta pra cantar

Não ter tom nem voz

São dois caprichos seus

Não culpe ninguém nem mesmo Deus

Que em compensação deu-te a inspiração

Para entoar os ritos Seus

Abra o peito então

Liberte a inspiração

Flua na vertente da canção

E pra que seu tom

Não jogue o samba ao léu

Unte sua voz

Bebendo Uísque-com-mel

Botei um "sete" no samba

Para a baixaria esquentar

Chamei o poeta que é bamba

Para este samba dedicar

Dezembro de 1992

Quando resolvemos gravar nosso primeiro CD o Uísque-com-mel foi unanimidade, e naquela altura já tinham mais de cinquenta musicas para escolher dezessete, depois de muita briga.

Naquela época ainda reuníamos apenas às quartas feiras no escritório do Dantas, mas já havia algo pra beber, pelo menos o liquido escocês. O Eduardo tinha a mania de beber uísque com coca cola ou guaraná, mas naquele dia não tinha outra coisa.

- Põe um mel de abelha que também fica bom!

O Edu tinha visto uma garrafa, lá no cantinho, que acho até tinha vindo do meu apiário, hoje fechado. Na terceira dose já estava cantando tudo. Sua voz estava uma beleza. O problema de articulação vocal sumira por completo. Dai veio a história da música, junto com a premonição do camelo.

Na hora da gravação o Firmino embirrou que o Edu tinha que cantar um trecho da música.

-Mas como eu vou gravar com essa voz?

-Eu troco a letra da música para: Não ter tom nem voz / São dois caprichos meus / Não culpo ninguém nem mesmo Deus / Que em compensação deu-me inspiração / Para entoar os ritos Seus.

-Não canto e pronto!

-E tem mais, se tu não cantares, eu vou cantar imitando atua voz.

Tocou no ponto fraco. Custou muito para que o Edu aceitasse a imitação de sua voz pelo Firmino, até que um dia reconheceu que a imitação era feita mais por carinho que por troça.

Mas tanto fez o Firmo que, embalado mais no uísque que no mel. o Edu acabou gravando o trecho. Quem não sabe da história e nem conhece o Poetinha, acha um pouco estranho. mas no teatro o Edu deu um show. Inclusive com direito a passos de dança. Sempre foi o número mais aplaudido.

Escute o audio aqui, no recanto das letras no link

https://www.recantodasletras.com.br/audios/cancoes/104265