INFIDELIDADE, LEMBRANÇAS E ALGUNS
BOLINHOS DE CHUVA
O cliente das quintas-feiras chegava sempre às cinco horas. Catherine o conhecera na festa de um deputado, em Brasília. Desde a primeira vez, o senhor N deixara claro seus desejos em um contrato, que ela assinaria sem pensar duas vezes. O cliente não estava interessado apenas no corpo de Catherine. Queria mais: alguém para ouvir suas histórias e desabafos. O senhor N pagaria bem pela discrição da garota de programa. E assim foi, por longos meses, até aquele fim de tarde.
— Minha mulher anda desconfiada. Vou ficar um tempo sem aparecer por aqui.
A garota permaneceu em silêncio. O senhor N contemplou a beleza de Catherine enquanto ela saía do banho e envolvia o corpo molhado na toalha. E então perguntou:
— Você sabe fazer bolinhos de chuva?
Acostumada a ouvir coisas estranhas, Catherine respondeu com outra pergunta:
— Eu deveria saber?
O cliente sorriu, antes de retrucar:
— Quando eu era criança e fazia algo errado, minha mãe me colocava de castigo. Mas, minha avó preparava esses bolinhos e me entregava, sem que minha mãe percebesse. Desde cedo, as coisas erradas ficaram com um doce gosto dentro de mim.
Agora, Catherine sabia exatamente o que dizer:
— Quando você voltar, vou te receber com os bolinhos de chuva.
