A SOMBRA DA TRAIÇÃO
Era muito mais do que tristeza. Um pedido permanente de socorro estava estampado nos olhos de Carolina. Ainda que estivesse mergulhada numa profunda solidão dentro do casamento, ela nunca imaginara que alguém pudesse enxergar sua dor. Mas enganara-se. Naquela tarde gelada, João a confrontara:
— Por que você não larga seu marido e fica comigo?
Assustada pela inesperada visibilidade, Carolina não sabia o que dizer, nem justificar uma coisa ou outra. Por um momento, lembrou-se do dia em que viu João pela primeira vez, no curso de cinema. A paixão em comum pelos filmes europeus tornaria as conversas entre os dois, após as aulas, cada vez mais frequentes. E desejadas. Assim emergiu a sensação de que algo os ligava, além da Sétima Arte. E então, naquele fim de tarde, ele a questionara.
A tal pergunta ficaria sem resposta e martelaria seu pensamento durante longos meses. No início, Carolina sentiu que havia traído o marido ao permitir que outro homem se aproximasse dela. Muito tempo depois, entendeu que ao seguir casada, renunciando ao próprio desejo, traíra apenas a si mesma.
No entanto, tudo o que não viveu por pura covardia cobraria seu preço. Carolina passou a ser assombrada por outro questionamento: como teria sido sua vida se não tivesse fugido do amor por João? Mais uma pergunta que ela não conseguiria responder. Afinal, nessa maldita terra do "se", nada acontece. Só existe silêncio.