SEGREDOS E MENTIRAS
— Não sei mais contar histórias.
Estas foram as primeiras palavras da mulher que acabara de sentar-se à minha mesa, sem pedir licença. Naquela noite abafada, eu não estava disposto a dar qualquer atenção à estranha, mas algo inexplicável me manteve ali. Muito antes de saber seu nome, ouvi suas dores. Quando perguntei como se chamava, Laura desviou o olhar ao responder:
— Isto não é importante.
E voltou a falar de seus tormentos. Nada parecia real. Depois, Laura era silêncio. E o que não dizia passou a exercer a mais poderosa atração que experimentei em minha vida. Seus silêncios lembravam um jogo, como se ela estivesse a um passo de confessar quem era, enquanto eu me agarrava à certeza de que esta revelação aconteceria, cedo ou tarde.
Hoje tenho consciência de que não a conheci naquela noite, nem em tempo algum: a verdade estava nas coisas que Laura calava e nunca me diria, ainda que tivesse permanecido ao seu lado, preso ao que só ela me faria sentir, esperando pacientemente que não precisasse mais se esconder atrás das histórias fantasiosas. A mulher que cruzou meu caminho dizendo não saber mais contá-las, vivia dentro delas, em um mundo imaginário. Incapaz de reconhecer a si mesma, Laura se perdeu entre suas máscaras. E eu não sei por quem me apaixonei.