Classe definitiva
Quem nunca pensou jazer
aqui jaz na lousa fria
achando que pra morrer
aos outros é que cabia...
Solitário, no seu féretro de carvalho,
é o assunto dos amigos leais
embora indiferente-
no seu novo agasalho-
ao choro e às lágrimas carpidais.
Agora, na apostasia absoluta
do referencial em que foi colocado,
chega a ser até festejado...
Nesta ocasião fúnebre, impoluta:
são velas acesas, sinos plangentes,
arranjos de crisântemos, coroas de flores,
rezas profundas e palavras comoventes
que saúdam o morto e seus descendentes.
O esquife é de primeira classe
como elo último de sua classe A,
embora não se note na sua face
qualquer sinal de que agradasse...
Desobrigado da vida,
e finalmente na classe definitiva,
este distinto ser se iguala aos outros docemente
na distinta classe dos entes extintos.
Tecido que irá virar barro
na metamorfose para o antigo ser
passa a ter de modo bizarro
a mesma estrutura que todos vão ter...
Pós-mortem virão homenagens
enquanto seu corpo vira pó,
falando da alma e da imagem
com missas e encomendações do corpo.
E só!
O jazigo perpétuo de mármore opaco
que acolheu aquele ataúde
pode até virar mausoléu
com pompas, elogios fúnebres,
epitáfios trabalhados
e recomendações aos céus.
Assim jaz, na cova rasa,
nada mais que sete palmos,
que agora é sua casa,
o falecido distinto
embalado por mil salmos...
Matéria, apenas matéria que vira matéria...
Ali diferença não faz
o lugar que ele ocupa
nem a riqueza que traz...
Carneiro, gaveta ou cova rasa
na sepultura onde jaz,
seja qual o seu canto,
agora seu manto:
são todos iguais!
São todos iguais
no pouso do campo santo!