Preciso da solidão

para soltar demônios e caprichos...

Olhar a vitrine em frente, medir as aparências,

recolher cacos, sufocar desenganos...

Preciso da solidão

para descobrir o que me sufoca o juízo...

Para ser cego do que vejo, enxergar na escuridão,

mergulhar no meu eu santo

e no meu eu pecador...

Quero a introspecção para lavar a alma

ou me jogar pela janela.

Quero a solidão para renascer

encontros e desafios...

Quero escutar estrelas...

Sentir as dores que provoquei,

ter o horizonte da noite e o chilrear dos grilos...

Preciso da solidão

para encontrar Deus

e o diabo.

Para ser meu rei,

meu réu, meu juíz...

Para me sentir absoluto, nu,eterno...

Para contemplar meus danos,

para conversar com a árvore

e a terra úmida...

Não quero purificar-me dos pecados,

quero apenas revê-los...