A cada véspera de Natal, ao cair da noite,Giovana olhava através da janelinha da casa, e esperava pelo tênue sol da manhã que tão cedo já derretia a neve que caíra sobre o telhado da caixinha dos correios. Era assim que sempre acessava ao seu melhor presente, as correspondências que chegavam do outro lado do mundo.
Esperava o ano todo por alguma notícia, por algum sinal...lá do local da sua infância, do qual saíra havia muitos anos...
Ele, o bom velhinho vinha de muito longe...mas jamais se esquecera dela, afinal, o seu presente era tão simples, e pouco espaço tomava no trenó de Papai Noel.
Ao soar dos seus guizos, logo depois da meia noite, chegavam os cartões coloridos com notícias e lindas mensagens para a Noite Santa.
Mas naquela noite, esperara em vão.
Estava ansiosa porque sonhara com um sorriso, uma lágrima e um forte abraço! Sim aquilo só poderia lhe ser um sinal...
Saltou rapidamente da cama, vestiu as luvas, as pantufas e o sobretudo térmico, se esquentou um pouquinho na lareira crepitante e pelo jardim da casa ainda enfrentou alguns flocos de neve que levemente se desprendiam do céu , a pairar na atmosfera fria...
Respirou fundo, fez um remoinho de fumaça com o ar advindo dos pulmões ofegantes e buscou pelo presente dentro da caixinha.
Com as mãos trêmulas abriu um único cartão formatado em coração.
-Um cartão em branco! –exclamou decepcionada.
Mas, sob o reflexo do sol viu se delinear com nitidez o sonho que acabara de sonhar. Em vão tentou segurar o abraço...que não tinha rosto...
Enxugou a lágrima e buscou pelo remetente:
DA SAUDADE.
NORUEGA, VINTE E QUATRO DE DEZEMBRO DE HUM MIL NOVECENTOS E DEZOITO.
Não era possível, pensou.Devia ser um engano. Afinal, estavam no Natal de dois mil e cinquenta...e ali bem pertinho... em Amsterdã...
-Giovana, o café está na mesa, e os “bolinhos de neve” estão esfriando -gritou alguém lá de dentro.
-Já vou indo, vovó...
Não entendendo o que acontecera, contou o fato para a avó, que sábia e tranqüilamente lhe explicou:
-Giovana, minha querida netinha, saiba que a saudade é o único sentimento atemporal, que aporta em todos os lugares!
Uma vez instalada nos corações, habita todos os cantos do mundo...e passeia pela eternidade, inclusive dentro da gente...
-E o cartão vovó, por que veio vazio...sem nenhuma palavrinha?
-Porque a saudade Giovana, nunca teve voz. Sobrevive do grito do silêncio, em meio ao vazio dos corações.
E abraçando sua vovó ...
-Ah sei, então NUNCA iremos sentir saudade, não é vovó? Feliz Natal!
-Claro Giovana querida...Feliz Natal!