Deixada na varanda, no terceiro degrau da escada, a paleta com tons de cinza, aos poucos, recebe as cores do vento “en passant”... Os pinceis, agora, ausentes descansam no cavalete. Da cadeira de balanço observo as imagens da tarde; uma pena branca flutua na vasilha d’água dos passarinhos, ela fechou seus olhos silenciou seu voo, e eu imagino suas viagens junto ao pássaro.
O balançar sonolento da cadeira inspira-me, a quase, tocar na semente de dente - de - leão, lembrança daquele vento “en passant”... que também espalhou algumas reticências no vaso com trevo - de - quatro - folhas. Os tons cinza da paleta que estavam acomodados começam a se espreguiçar, e um a um vão colorindo, sem pressa, os parágrafos dessa prosa poética, com o carinho de um dedicado pintor e até os espaços entre as palavras recebem os tons de gris.
É especial mergulhar nessas sensações ao sentir esse mesclar das tintas - o nanquim e suas nuances, beijando aguadas, envolvendo as palavras e me envolvendo: sou folha, sou pétala, sentido o esmaecer das cores, o esmaecer da Vida, bordando com sabedoria mais um fim de tarde, balsamizando as dores e tirando com cuidado a flecha do meu peito, disfarçada em uma ponta de arco-íris - fragmentos...