Derrama a Lua suas lágrimas de piedade,
Quando o Sol se parte ao entardecer,
Sabe ela que em seu lugar a saudade,
Que se contorna ao amanhecer.
Mas, nada pode acontecer,
Suas mãos não podem toca-lo,
E nos crepúsculos que ela pode ver,
Ao longe não pode beijá-lo.
E quando a noite se deita em seu colo,
No seu olhar pálido e sofrido,
Espelha-se em lagos noturnos em solo,
Silenciosa, como orvalhar amanhecido.
E quando os pássaros levantam voos...
Batem asas sem destino,
Como a fauna presa em zoos,
É o choro triste das badaladas de um sino.
E o amor perdido é como uma folha viva que voa,
Solta de seu caule como da mão materna solta um filho,
Sem saber de onde vem o sonido que soa,
Dos sussurros tristes de um luar sem brilho.
Ah! Que a tristeza em sua nau perdida!
Fustigada pelas intempéries da solidão,
Sozinha a alma chora ressentida,
Pelo amor partido na escuridão.
E quando a harpa toca uma canção perdida,
No tempo em que o amor era tão solto,
As lembranças voltam como tempestade ferida,
Mergulhando os olhos em águas de rio morto.
Tráz-me, óh! saudade, um lembrete triste,
Do amor que fertilizou em terra seca,
Não morre, mas, ainda, no tempo resiste,
Mas, chora sozinho como um animal atrás de uma cerca.
Assim, deixo ser lavado pela água pura da minha solidão,
E deixo derramar ao solo, como gotas de chuva em solo quente,
Fervilhando a alma, deixando em sofreguidão o coração,
Lavando em palavras um poema triste de um amor indigente.