ZulmiraRibeiroTavares-ChicoDoCrato-UmEstadoMuitoInteressante(Brasil)
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ChicoDoCrato, música, voz, violão, sintetizador, arranjo, mixagem e adaptação do poema de Zulmira Ribeiro Tavares.
Audacity, 099 Ritmo 044+40 rm Mí-. Gravação caseira. Gravar em estúdio.
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Conheço o meu país no escuro – pelo tato.
E se me amarram as mãos nas costas
conheço pelo cheiro.
E se me tapam o nariz ainda assim conheço o meu país pelo que dele sobra à minha volta.
Não conheço o meu país pela boca.
Não conheço o meu país pelos ouvidos.
Não conheço o meu país pelos olhos.
O que a boca solta o ouvido não encontra,
o papel não grava, o olho não recorta.
Conheço o meu país mas não o conheço de dentro.
Também não o conheço de fora.
Conheço-o de lado.
Quer dizer que o conheço sem relevo.
Muito curioso esse país rasante como um vôo rasteiro.
Meu país bicho-de-concha para dentro de sua casca sem contorno.
Muito curioso esse país no escuro sem local exato de pouso para os dedos.
Muito curioso esse país de cheiros sem apoio.
Muito curioso e muito interessante.
O termo é este.
Um país interessante é como uma mulher em estado interessante?
Uma mulher em estado interessante sempre acaba
em trabalho de parto?
inevitavelmente? não há outra saída além daquela prevista na barriga? Um país muito barrigudo é uma mulher inchada –
de basófia ou filhos?
A comparação não cabe, entre pessoas estados, de corpo, alma e federativos?
Ou cabe até demais?
É isto mesmo:
Tudo cabe em um país.
Ou não?
Como tirar a dúvida?
Por exclusão do que primeiro?
estados? almas? pessoas?
o que fica? sobra? federação? filhos?
O que faço se não controlo as respostas pela boca; assobio?
Deixo passar em brancas nuvens o que o olho não viu se tinha cores?
Por que não me conformo pelo meu país a gastar menos a só usar uma narina e um dedo?
Por que o anseio de vir a conhecer a raiz dos cheiros relevos posição dos corpos mares rios
rotas ares esquadrias?
Tão sentimental vou indo olhos de leitura sem legenda e boca sem sentenças indo estou voltando
ao ponto de partida
No escuro meu país é simples.
Dois sentidos bastam.
E sobram.
Bis
Sem nenhum sentido meu país teria a mais perfeita ordem.