O verbo no tempo "infinitivo" é a ação propriamente dita ; cantar, correr, ver, chover, brincar...Essa foi a primeira idéia para cantar o "agora", a ação acontecendo de forma lúdica , onde os valores materiais são inexistentes e desnecessários.
Fiz esta canção em maio de 2004, para o meu estado de inquietação e pela minha busca interior pela paz, e tranquilidade. Esta canção estava sendo feita quando a minha mãe já estava muito enferma, e a terminei após a sua despedida. Eu já vinha sofrendo no trabalho, com a nova direção e com as mudanças que se implementavam, e sentia que o meu tempo e espaço haviam terminado, que o lugar aonde havia dedicado uma vida, já não existia , e que as nossas histórias são apenas nossas.
Quero correr porque eu quero te rever, para cantar, correr e brincar, e sonhar acordado, porque este é o meu lugar, e dele não quero mais sair. Quero te ver, e quero me ver...A idéia de eu só poder te ver se primeiramente conseguir me ver, é a idéia de se sentir, poder se apalpar e se gostar, o que não é fácil, pois não me refiro a corpo, estou falando da alma, da essência humana. Só posso gostar das pessoas se gostar de mim, para dar o melhor de mim, o meu melhor, porque as pessoas que amamos merecem o nosso melhor, porque você não tem a obrigação de me costurar, de me carregar, e a harmonia requer ações.
Imaginei uma campina verdejante, com flores, árvores, onde se possa dormir ao ar livre, como um paraíso de compensações. Nada de bens acumulados , pois de nada servem se o espírito não for livre.
Esta canção agradou, tocada ao violão, e para ela fiz uma batida de três cordas de uma só vez, para cima, enquanto se mantinha no mesmo acorde , dando dinâmica a última parte, fazendo crescer os verbos de ação, para a intensidade que desejava dar. A cada verbo, um acorde. E o Dan, que me acompanhava , tocou muito bem a flauta, deixando a música melhor para o cenário , e a Fá cantou com prazer ,e para falar a verdade, até gostaria que ela a tivesse cantado sozinha, mas ela quis apenas me apoiar com a sua bela voz.
Muitas vezes disse pra ela, " eu não me sinto, não estou feliz, tenho uma boa vida mas as vezes não me sinto, sou escravo de um sistema", não é possível que se estude tanto para tão pouco, para que as pessoas façam de você um instrumento , e acho que muitos se sentem assim, como me sentia naquela ocasião. Depois da perda da minha mãe, perdi também as amarras, e criei um compromisso secreto de atender ainda com mais justiça, e me respeitar a qualquer custo, e assim fui construindo a liberdade de pensamento, a que ninguém pode roubar.
" Vou correr pra ver você
Pois eu quero te rever
Vou correr pra ver você
Pois eu quero te rever
Cantar, correr, brincar , chover
E um novo sonho acontecer
Cantar, correr, brincar , chover
E um novo sonho acontecer
Vou chegar ao meu lugar
E a vida começar...
Vou correr pra ver você
E na relva adormecer
Vou chegar ao meu lugar
Nada mais quero passar ...
Cantar, viver, olhar, te ver
Sorrir, dormir, olhar, me ver
Cantar, correr, brincar, chover
E a nova aurora renascer..."
É o sonho da nova ordem, a que não vem dos homens.