Esta canção conta a história de alguém que não entra na vida, por insegurança , o medo de enfrentar problemas, de se relacionar, de sair machucado, e sente-se como se o mundo fosse propriedade de todos, e não consegue entrar , mas se vê em todas as partes que os outros olham, nas vitrines, nos jornais, nas revistas , nas músicas do rádio...e divaga... As vezes também sinto este medo, mas me relaciono bem, apesar de sempre avaliar ambientes e pessoas , pois tenho recéio de gente , e entendo bem o nosso personagem, pois afinal eu sou o autor da canção e não poderia ser diferente.
" Estou sempre a divagar
Leio nas páginas dos livros
Nas revistas e nos jornais
Nas histórias em quadrinhos ,
E nas cançõe de um pop-star
Estou sempre a divagar
Estou sempre a divagar...
Achas que estou fingindo
Mas eu posso delirar
Um Quixote da cidade
Num intenso palpitar
Estou sempre a divagar
Estou sempre a divagar...
Me encontro nas vitrines
E pelas ruas a cantar
Sou um louco atrapalhado
Com direito a pensar
Que o sol nasce pra todos
E eu também quero brilhar
Estou sempre a divagar
Estou sempre ...a divagar...
Achas que estou fingindo
Estou sempre a divagar
Um poeta, um insano,
Com direito a brilhar
Que o sol nasceu pra todos
E eu também quero pensar
Estou sempre a divagar..."
A vontade de fazer parte palpita por toda a música, assim como a profunda insegurança que o deixa em divagação, onde o real e o irreal andam lado a lado, como a verdade e a mentira.
Um Don Quixote urbano, que carrega dentro de si a lucidez e a insanidade, com corajem para admitir os seus delírios, e clama pelo direito de ser, de pensar e de brilhar.
O livre arbítrio, que na prática é tão difícil de praticar , e tão necessário quanto o ar que se respira, a quebra de correntes que a sociedade tanto teima em colocar uns nos outros, a qual chamamos "sistema", por falta de uma palavra melhor.
As pessoas de alma livre sofrem mais, os puros, o poetas, os artistas , pois em troca de um dom, a genética os empurra para uma sociedade desigual , e para a incompreensão.
Pede espaço, ar para respirar, não se importa que o classifiquem, desde que consiga seus direitos, achando normal cantar pelas ruas, sem qualquer rótulo , e gostaria de poder dizer que também faz parte, que também é dono do mundo, que não o agridam com a ignorância, pois ele não faz mal algum.
Divaga nas canções que ouve, se vê com a roupa dos manequins da vitrine, com pessoas a admirá-lo, ou é o super-herói Marvel dos gibís, ou quem sabe até o assunto do noticiário matutino num grande evento. E nesses ecos é que divaga, mergulha na imaginação e se deixa levar.
Acordes pontilhados com base em "Si na sétima", pouco comum para início de canção, uso 1/2 tom para quebrar o "mantra" da monotonia, e fazer com que a letra seja o alvo da análise,
Os adjetivos como louco, insano, atrapalhado, querem dizer o contrário , é um "preste atenção" , e "veja-se" , " o que tenho é uma lucidez diferente, apenas isto".
A liberdade de expressão e a dificuldade da inércia, e o que a provoca, não ligar para os outros, porque afinal ninguem lhe paga as contas , não dar tanta atenção as opiniões, ser seletivo e se valorizar .
Foi a última composição do CD "Isla mía", mas nunca fiz uma canção para iniciar ou encerrar uma gravação, simplesmente acontece, é pura coinscidência.
Esta canção tem um toque de "fado", e foi involuntário, mas não é de estranhar , pois sendo eu um ibérico o som existe , está guardado de alguma forma na mente. Isto já aconteceu com o Alcéu Valença, quando compôs " O P da paixão", mesmo sendo ele um exelente compositor do folclore nordestino, fez um fado. Afinal a música não tem pátria, ela pertence a todos , nós é que temos.
O sol brilha para os que sabem pensar.