AnaFraiman-ChicoDoCrato-SociedadeBrasileira
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ChicoDoCrato, Música, Voz, Violão, Sintetizador, Arranjo, Mixagem e Adaptação do texto de Ana Fraiman
Audacity 068 Ritmo 028+50 em Sí-. Gravação caseira. Gravar em estúdio.
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O engano: autosufiência e independência a qualquer preço. Todos 'se fazem de fortes'. As pessoas se convencem de que podem 'passar muito bem' sem a amizade daquele irmão ou irmã. Que não precisam ser visitados pelos pais. Que avós não têm nada a ver. E que tios e primos, bacanas ou chatos, não fazem falta. A pessoa pode pensar ter superado suas dores de ter vivido uma infância abandonada. A pessoa pode pensar que não precisa mais dos mais velhos. Podem pensar que vivem muito bem sem serem obrigados a conviver com seus familiares. E, sim, existe a família de afeto, mas quanta dor já se viveu antes de formar uma nova família, constituída de amigos queridos e comprometidos consigo? Então, quando todas as pessoas de uma família se sentem sós, temos aí uma família integralmente doente, muito desamparada e muito perigosa. Para si e para os demais com quem convivem. O desespero, as dores não curadas podem, à qualquer momento, explodirem em gestos e ações desmedidas. Contra si próprios e contra os demais. A nossa é uma sociedade de pessoas tensas, mais ansiosas, insatisfeitas, infelizes e cínicas, além de terrivelmente solitárias, que disfarçam bem. Ou pensam que disfarçam.
Quando se examina de perto, são milhares, milhões de viciados em trabalhos, em drogas, em sexo promíscuo, em compras, em aparelhos de última geração, em games e em remédios que não curam nem aliviam, porque vivemos numa sociedade que está, no seu conjunto, muito e gravemente doente. Uma sociedade de relações e relacionamentos financeirizados, em vez de respeitadores de poderes necessários para regular a ordem social: a política, as leis, com suas economias e seus empreendedores e, a ordem espiritual que nos reúne.
Quando existe promiscuidade entre estes três poderes, todos eles remetendo e se submetendo aos poderes de somente um deles, que se torna dominante, instala-se a desordem e todos, inclusive as células familiares se desfazem. Não presta quando a religiosidade se sobrepõe à espiritualidade e se rende ao poder financeiro. Não presta quando as leis, a educação cívica e os negócios se sobrepõem aos demais poderes, porque sem a espiritualidade, tudo se torna uma questão de razão e de renda. E não presta quando a política se sobrepõe às pessoas humanas, desrespeitam as leis e sufocam o fluxo das trocas livres, negociando interesses excusos e individuais, mais do que respondendo ao conjunto da sociedade, ao que as pessoas humanas verdadeiramente necessitam para serem felizes e se sentirem seguras.
Somos co-partícipes da construção de uma sociedade de redes e mais redes de trocas abslutamentes financeirizadas. Uma sociedade viciada nas aparências, na sede de poderes e nas vaidades. Viciada na crença de que cada qual se basta e que ser independente é a melhor coisa da vida. Olhamos com indiferença para o momento de chegar em casa e não ter com quem conversar, ninguém esperando. Ou não ter forças para conversar, de tanto que se trabalhou. Adiar o momento de voltar para casa por causa do trânsito terrível e permanecer bebendo num barzinho num happy hour sem hora para terminar. Deixar as crianças aguardando, até as dez da noite, pelo papai e pela mamãe que acham isso normal, porque senão não terão se visto desde o café da manhã e olhe lá. Falar correndo ao telefone com os pais de mais idade, porque não há sequer interesses em comum sobre o que conversar. Perguntar pelos irmãos em vez de visitá-los por que não consta das prioridades do trabalhador no dia a dia, nem nos fins de semana. Sim, esta é a vida nas grandes cidades e nos corações cada vez mais apertados, porque o que importa está sendo passado para trás.
(Bis)
Rompem-se famílias. Rompem-se vínculos de amizade. Rompem-se os contratos. Sofremos as penas das LÉIS, mas não respiramos DIREITO, não descansamos enquanto dormimos e não desfrutamos das amizades no dia a dia. Penso que é chegada a hora de parar, respirar fundo e refletir sobre o que, de fato, merece ser recuperado, revisto, repaginado, reformulado, reavaliado para conseguirmos reinstalar a gentileza, a candura, o sorriso meigo, a confiança e um profundo respeito entre nós e, por todos nós e, pela coisa pública. Se quisermos que alguma coisa seja diferente em nossas vidas nas cidades grandes, muito mais humana e bela do que tem sido, temos que nos propor a fazer bem e, consciente feito, cada qual a sua parte e buscar junto as soluções que almejamos. Conhecer melhor as pessoas, Se conhecer melhor e alinhar o coração à força da vontade racional e à FORÇA criteriosa e executada com determinação:
Há quem afirma estar faltando DEUS em nossos corações.
Há quem afirme faltar boas escolas, que garantam uma boa educação e um ensino sobre como pensar a razão.
Há quem defenda o direito ao trabalho digno, bem regulamentado e flexibilizado.
Há quem defenda plantar mais árvores, pavimentar melhor as ruas, ter mais tempo para o lazer.
Há os que não fazem questão e nem acreditam em DEUS, mas acreditam na ética e na civilidade, numa vida de convivência respeitosa e cordial.