Quando o amor era uma rima nas revistas de quadrinhos, além dos enfeites que eu não via, das palavras que eu não entendia, havia um vácuo de coisas acontecendo…
Havia o olhar criança salteando lonjuras, desdobrando paisagens, arranhando a inocência no arame farpado das escolhas. -Nunca me contaram o segredo dos limites, nunca me deram a chave de quem eu era, pois tudo que havia eu precisei romper.
Eu vivia em total suspensão de ser, ali, eu vivia entre o som mudo das pessoas.
Eu era só uma criança e eu nada podia saber não me deram a faculdade dos argumentos- foi então que aprendi a recolher-me em silêncio, esperando o para sempre dos dias.
Nunca ouve um olhar que pudesse com os deles, eu ainda não conhecia a palavra- eu sempre fui o meio do caminho.
O meu segredo era um sussurro confuso…
Quem sabe pudessem me ouvir e assim eu conseguisse demonstrar a gravidade do dito.
Eu fui além do susto, eu fui à interdição das palavras, pois longe delas, eu estaria a salvo e de olhos lavados- eu só sabia aceitar.
Eu fui os olhos por cima das coisas e medo dentro da alma, medo de gente sem sono.
Mas, o menino cresceu, fez barulho e acordou o mundo.
O menino deixou o pensamento voar, descobriu que lá fora ele fica grande demais- solto no susto de viver. -Hoje, sou homem na medida certa do grão- Eu disse chega- pois me encaixo no jeito que sou e não existe régua que possa medir o meu tamanho. Não existe chão que eu não possa pisar nem transparência que me disfarce.
Eu nunca coube no formato, fui desviando a lágrima mesmo sentindo doer baixinho no início do sono- eu sonhava a vida para depois, eu queria mãos diferentes e as encontrei na serena lagoa da minha saudade.
Eu cresci, sou homem sou inteiro e os meus desejos estão hasteados.
Eu fui dor, mas hoje eu sou poesia, eu descobri o incomodo que é doer de silêncio.
O meu olhar palavra descobriu um descanso mais intimo um cômodo azul e nele, eu desafino.
Por toda a minha vida!