[Memórias do chalé amarelo Araguari-MG — Uma explicação de minha mãe]
Magro, espigado, pernas trêmulas, muito fracas,
ele percorria a sala apoiando-se, sem firmeza,
com suas mãos brancas, magras, ossudas
nas paredes e nas cadeiras à volta da mesa escura.
Sua boca murcha, de poucos dentes,
engrolava algumas palavras em italiano;
de olhos arregalados, vinha do quarto para a cozinha —
esse curto trajeto era para ele, uma penosa viagem!
O titio Alberto morria... está morrendo;
era o que os meus olhos atônitos diriam
se a custo alguém os pudesse ler.
Mas está morrendo de quê? — eu coçava a cabeça.
E a minha mãe: “ora, seu menino perguntador,
o seu tio Alberto está morrendo sim,
mas é de tanto que ele já viveu!”
Então era só disto — de tanto viver que ele morria!
Na sala do chalé amarelo dos meus cinco anos,
os meus olhos assustados aprenderam
com os olhos arregalados do titio Alberto,
que esta vida, tão bela vida, é que nos mata!
[Penas do Desterro, 16 de agosto de 1998]
Caderno 2 pág.22 e caderno 1 velho pág. 105 -18/10/1998
[Do meu livrinho “Arribadas, O Passo da Volta”]