Menino Crucificado-ChicoDoCrato-BustamanteZambrana
ChicoDoCrato, Sintetizador, Música, Voz, Violão, Arranjo, Mixagem e adaptação do poema Excrescência de Bustamante Zambrana.
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Eu não nasci,
Fruto amargo, apodreci
No asfalto, fui abortado
Por todos, relegado.
Quando estou de rango,
No mercado chego durango,
A pança não ronca,
De galera, na comida, meto bronca.
Não nascido,
Nas ruas fui cuspido.
Frio noturno não vai me assombrar,
Tenho marquises para me aconchegar,
Morar em castelo de cartas,
Meu baralho de papelão basta.
Não quero nem saber,
Nas vielas haverei de ser.
A magia fugiu com a fantasia,
Mas a cola extasia.
É hora lúdica de brincar
A arte esperta para escapar.
Nunca fui querido, nem amado,
Neste mundo quedei abandonado.
Não vacilo, rasgo a madrugada
E na alvorada estou ligado na parada,
Minhoca criada e tarimbada,
A morte não colhe na calçada.
Do mar, trouxeram-me fisgado,
Gerado, gestado e escarrado.
Não tenho contas bancárias,
Aplico nas bolsas das otárias,
Das poupanças ando entendendo,
Nas carteiras dos babacas estou me fazendo.
Estou nem aí prá vida,
Sou kamikaze, suicida.
Sou pequeno, virei menininha,
Os grandes comeram a minha rodinha.
Picolé, helicóptero voador,
Quando crescer serei estuprador.
Jesus, porque tanta dor.
Só por nascer, sou pecador.
Menino de talco, rico, abobalhado,
Quero teu tênis, Nike importado.
Não me olhe com desdém, não me esquece,
Com ódio e inveja te rezo uma prece.
Entre homens e mulheres, fecundado.
Pela humanidade trucidado.
Eles chegaram com vitros e escopetas,
Senhores da morte e anjos das provetas.
Crueldade, impiedade, sevicia,
Se segura, pintou a policia.
Estou a fim de aprontar,
Pouco tempo ei de ficar.
Cadê pai, mainha,
São a sarjeta e a solidão sozinha.
Sem carinho, afeto ou afago
E no mármore frio, onde choro, desabo.
Espermatozóide safado,
Graças a tí, fui crucificado.
Ela se aproxima, enfim
Seus braços gélidos tocam em mim.
Manto negro sobre o serafim.
Finalmente, Deus apiedou-se, o fim.
Não estarei totalmente morto,
Sempre serei o teu desconforto.
Bis no final.
No trânsito te importunarei,
Nas calçadas o abordarei,
Nos supermercados esmolarei,
Em todos os lugares estarei.
Viemos das pobres multidões,
Não somos poucos, mas,
Muito mais que milhões,
Tuas filhas violentaremos,
Tuas instituições corroeremos.
Teus filhos espancaremos,
Tua sociedade destruiremos.
As vítimas serão os carrascos.
Perdidos, todos cairemos nos penhascos.