Olutador-ChicoDoCrato-CarlosDrummondDeAndrade

Publicado por: ChicoDoCrato
Data: 17/10/2017
Classificação de conteúdo: seguro

Créditos

O Lutador-ChicoDoCrato-CarlosDrummondDeAndrade ChicoDoCrato, Sintetizador, Música, Voz, Violão, Arranjo, Mixagem e adaptação do poema de Carlos Drummond De Andrade Audacity, 090, Ritmo 069+30 em Mí+. Gravação caseira. Gravar em estúdio. Copyright: proibir a cópia, reprodução, distribuição, exibição, criação de obras derivadas e uso comercial sem a sua prévia permissão. A proteção anticópia é ativada.
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.

Olutador-ChicoDoCrato-CarlosDrummondDeAndrade

O Lutador-ChicoDoCrato-CarlosDrummondDeAndrade

ChicoDoCrato, Sintetizador, Música, Voz, Violão, Arranjo, Mixagem e adaptação do poema de Carlos Drummond De Andrade.

http://www.recantodasletras.com.br/audios/cancoes/76918

Audacity, 090, Ritmo 069+30 em Mí+. Gravação caseira. Gravar em estúdio.

Copyright: proibir a cópia, reprodução, distribuição, exibição, criação de obras derivadas e uso comercial sem a sua prévia permissão. A proteção anticópia é ativada.

Lutar com palavras

é a luta mais vã.

Entretanto lutamos

mal rompe a manhã.

São muitas, eu pouco.

Algumas, tão fortes

como o javali.

Não me julgo louco.

Se o fosse, teria

poder de encantá-las.

Mas lúcido e frio,

apareço e tento

apanhar algumas

para meu sustento

num dia de vida.

Deixam-se enlaçar,

tontas à carícia

e súbito fogem

e não há ameaça

e nem há sevícia

que as traga de novo

ao centro da praça.

Insisto, solerte.

Busco persuadi-las.

Ser-lhes-ei escravo

de rara humildade.

Guardarei sigilo

de nosso comércio.

Na voz, nenhum travo

de zanga ou desgosto.

Sem me ouvir deslizam,

perpassam levíssimas

e viram-me o rosto.

Lutar com palavras

parece sem fruto.

Não têm carne e sangue...

Entretanto, luto.

Palavra, palavra

(digo exasperado),

se me desafias,

aceito o combate.

Quisera possuir-te

neste descampado,

sem roteiro de unha

ou marca de dente

nessa pele clara.

Preferes o amor

de uma pose impura

e que venha o gozo

da maior tortura.

Luto corpo a corpo,

luto todo o tempo,

sem maior proveito

que o da caça ao vento.

Não encontro vestes,

não seguro formas,

é fluido inimigo

que me dobra os músculos

e ri-se das normas

da boa peleja

Iludo-me às vezes,

pressinto que a entrega

se consumirá.

Já vejo palavras

em coro submisso,

esta me ofertando

seu velho calor,

aquela sua glória

feita de mistério,

outra seu desdém,

outra seu ciúme,

e um suplente amor

me ensina a fruir

de cada palavra

a essência captada,

o sutil queixume.

Mas ai! é o instante

de entreabrir os olhos:

entre beijo e boca,

tudo se evapora.

O ciclo do dia

ora se conclui

e o inútil duelo

jamais se resolve.

O teu rosto belo,

ó palavra, esplende

na curva da noite

que toda me envolve.

Tamanha paixão

e nenhum pecúlio.

Cerradas as portas,

a luta prossegue

nas ruas do sono.

ChicoDoCrato e Carlos Drummond De Andrade
Enviado por ChicoDoCrato em 17/10/2017
Reeditado em 17/10/2017
Código do texto: T6145426
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