Ah, eu beijei a natureza!
Vestida em traje de seda
E a louca, acesa
Dançando num pedaço de papel
Fez-me livre mas eis presa
Vassala de alcoviteiros
Pago o preço, na penumbra
E amo-te em bueiros
Pois é proibida, a natureza
Desarmada e perigosa
Ao beijar-te na neblina
Torno rima o que era prosa
Mundo cinza, agora rosa
Eis o remédio mais insolente,
Rebelde, heróico, insurgente
Para um mundo doente.
Cativos dos generais
Que censuram a pureza
Permitem morrer aos poucos
Mas não beijar a natureza
Entregam a cura ao algoz
E és lucro de cafetinas
Ainda que não tenhas culpa
Do covil a que te trouxe, a lei cretina
Pago o preço a contragosto
Mas contemplo essa beleza
Sou então fora-da-lei
Mas eu beijei a natureza
Sou então tudo, sou então todos
Terra e vento, água e fogo
Riso solto, boca seca, Militante da beleza
Ah, eu beijei a natureza!