Todos os dias, percebo o quão rapidamente os cenários se modificam.
De súbito, o meu sentido...virou contramão.
Forço a direção do carro e tento achar o velho caminho.
Mas por que mudam os cenários, sem que eu troque de coração?
Não sei...
Minha pergunta ecoa pelo meio fio...e acorda um andarilho sonolento...
No meu semáforo de sempre, hoje há tantas fases!
Assim, espero mais um pouco para ultrapassar o cruzamento.
Aquele café da esquina não existe mais.Nem o meu jornaleiro.
Há uma ponte nova subindo.Sinto-me tão apertada...
Quanta engenharia que nos leva a lugar nenhum!
Aquele pardal assustado, também perdeu o fio da avenida.
E eu, desnorteada como ele...
Olho no retrovisor e rearranjo minha arquitetura interior...
Que sufoco!
No túnel, a fumaça preta aumenta e um grafiteiro aproveita as cinzas da vida para fazer um protesto!
Não adianta.
Logo a seguir, alguém lança uma “bituca” de cigarro pela janela do carro.
Torço-lhe o nariz.
Dependurada num cortiço, uma lingerie seca à luz da lua...relembrando seus dias de glória...
Mais um buraco!
Freio bruscamente...e quase atropelo um novo endereço.
Mas... cadê aquele Ipê amarelo de sempre? Cadê?
O silêncio não me responde.
Mas sei que amarelou com o tempo...
Fujo da caverna do metrô. Melhor não arriscar.
E mais adiante...inacreditável...
Um bum de lindas flores às margens do rio em suplício!
Lembrei!
Certa vez...o amor lançou sementes ali...
E não é que deu certo?!
Alguém buzina...-ô dona Maria, a fila andou!
Abro a janela...
-E sou Maria mesmo!-esclareço.
Meu cenário...é imutável.