Outono da minha vida

Publicado por: Madalena Gomes
Data: 03/10/2014
Classificação de conteúdo: seguro

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Outono da minha vida - Madalena Gomes Áudio/Edição: Madalena Gomes Música: Instrumental (CD)
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Outono da minha vida

Meus sessenta anos... É sem dúvida meu outono...

Há tantas folhas secas ao chão, tantos galhos desgrenhados, secos, balançando ao vento, carregados de dores pelo próprio desgaste do meu tempo, carregados de mágoas,

de tantos perdões e muitas alegrias.

Há tantas histórias mal contadas, inacabadas em cada folha que caiu, mas todas estão marcadas pela saudade que as amarelaram, que as tornaram secas, são velhas, feias, enfim, também enriquecidas pela marca da experiência, da existência, do grande amor que carrego.

Hoje tenho um sentimento amargo, mas possível de degustar solenemente como se fosse uma taça de vinho, um sentimento forte que me enriquece, o sentimento que colore o amor que sinto pela vida, que enaltece a minha vontade de ser e de cumprir meu tempo com nobreza e muito calor na alma... O sentimento de me gostar para assim, poder amar tudo e todos com a força que se criou dentro de mim. Essa força que me faz

clara, enraizada no chão, nesse chão que me teve, me fez!

Hoje, sinto-me cada vez mais forte na capacidade de amar, embora tantas saudades desfilem na minha mente... Saudade dos momentos em que me jogava na realidade com leveza como se eu fosse a resposta; saudade dos momentos em que, chorando sob a chuva, buscava resposta para tantos questionamentos, saudade de outros momentos em que eu tinha respostas para tudo, bastava me jogar nas buscas que se espalhavam pelo meu chão.

Olho para trás e me deparo com tudo de bom que vivi, momentos marcantes, mágicos que pensei nunca fossem passar, vejo um horizonte longínquo e quedo-me triste, embora saiba que hoje, apesar de todo cansaço, desilusão, tenho que construir outra estrada, outro caminho... Que me leve, levemente, sem pressa para onde o destino queira me levar.

Já não tento lutar com a vida para ir a algum lugar que eu tenha sonhado, já não questiono o destino. Descobri que tudo já vem traçado comigo, como uma mala já arrumada que temos apenas o trabalho de trazê-la e vivenciar tudo que existe

dentro dela, sem questionar.

O amor que sonhei ficou no passado, num ponto de partida, sem tempo nem força para me alcançar, os sonhos que vivi ficaram todos inscritos nas folhas que agora jazem,

secas ao chão da minha alma.

Restam-me uns parcos e amarelos sorrisos que deixo escapar para não chorar... E a solidão da estrada com sua fluidez tão infinitamente misteriosa, inexplicável!

Ao fim de tudo, tudo permanece comigo, ao fundo do túnel que talvez eu mesma tenha criado e que agora não tenho jeito de chegar lá e retocar, remanescer.

Madalena Gomes

27.03.2013

Madalena Gomes
Enviado por Madalena Gomes em 03/10/2014
Código do texto: T4986409
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