O JUIZ DA VIDA ALHEIA
Abriu lentamente a porta, e acomodou-se na única cadeira ainda vazia. Todos, na sala de espera, tentavam disfarçar a angústia. Estar diante do Senhor Avaliador era quase uma condenação: raríssimos casos haviam recebido a benesse de outra chance.
No momento em que ouviu seu nome, Ângela imaginou-se lutando para acordar de um pesadelo. Nada, porém, seria mais sinistro — e real — do que se confrontar com a própria história.
Atravessou o enorme corredor, guiada apenas pelo comando de uma voz feminina, reproduzida por caixas de som espalhadas ao longo do caminho. Ao pisar no imponente salão de mármore negro, teve vontade de fugir, mas suas pernas permaneceram imóveis.
Contrariando a expectativa clássica dos cabelos brancos e rosto enrugado, o Senhor Avaliador era um homem jovem, atraente e direto:
— Sente-se aqui, Ângela. Aperte a tecla vermelha do controle remoto que está ao lado da poltrona. Preste atenção à tela. Sua vida aparecerá em poucos minutos.
Por um brevíssimo instante ela desejou ser corajosa, e — mais do que qualquer outra coisa —, ter vivido uma história digna de ser contada. No entanto, Ângela sabia que era tarde para salvar a pele. Não havia nada a dizer em sua defesa. Desperdiçara a vida. E estava agora diante do fim.
(*) IMAGEM: Google
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