Requiescat (Olavo Bilac)Por que me vens, com o mesmo riso, Por que me vens, com a mesma voz, Lembrar aquele Paraíso, Extinto para nós? Por que levantas esta lousa? Por que, entre as sombras funerais, Vens acordar o que repousa, O que não vive mais? Ah! esqueçamos, esqueçamos Que foste minha e que fui teu: Não lembres mais que nos amamos, Que o nosso amor morreu! O amor é uma árvore ampla, e rica De frutos de ouro, e de embriaguez: Infelizmente, frutifica Apenas uma vez... Sob essas ramas perfumadas, Teus beijos todos eram meus: E as nossas almas abraçadas Fugiam para Deus. Mas os teus beijos esfriaram. Lembra-te bem! lembra-te bem! E as folhas pálidas murcharam, E o nosso amor também. Ah! frutos de ouro, que colhemos, Frutos da cálida estação, Com que delícia vos mordemos, Com que sofreguidão! Lembras-te? os frutos eram doces... Se ainda os pudéssemos provar! Se eu fosse teu... se minha fosses, E eu te pudesse amar... Em vão, porém, me beijas, louca! Teu beijo, a palpitar e a arder, Não achará, na minha boca, Outro para o acolher. Não há mais beijos, nem mais pranto! Lembras-te? quando te perdi Beijei-te tanto, chorei tanto, Com tanto amor por ti, Que os olhos, vês? já tenho enxutos, E a minha boca se cansou: A árvore já não tem mais frutos! Adeus! tudo acabou! Outras paixões, outras idades! Sejam os nossos corações Dois relicários de saudades E de recordações. Ah! esqueçamos, esqueçamos! Durma tranqüilo o nosso amor Na cova rasa onde o enterramos Entre os rosais em flor... Para ouvir estes versos de Olavo Bilac recitados por mim, clique no link abaixo:http://www.recantodasletras.com.br/audios/poesias/60804Olavo Bilac