A nave louca pouco a pouco foi levando
Aquela gente que gostava de cantar,
Os meninos que brincavam lá na rua,
O bosque que havia pra caçar,
O velho que distribuía doces,
O casal na praça a namorar,
A infância moleca da vida,
Com sua inocência e fugacidade.
Aquele amigo de verdade
E os sonhos com casas de chocolate.
O super-herói defensor.
A loira da capa da revista.
E pouco a pouco deixou
A vida louca da vida...
A nave louca leva e deixa de nós muito:
Leva o amigo e deixa a saudade,
Vai a inocência e fica a vaidade,
Parte a ingenuidade e chega a maldade,
Tira o colo de mãe e põe a vontade.
A vontade de ver voltar o que já foi:
De correr descalço na areia,
De subir pé de mangueira,
De brincar de rezadeira,
De dormir a noite inteira,
De sonhar mesmo acordado!
De lata se fazer carro,
A vassoura é um cavalo,
Bolo se faz de barro,
Salada se faz de flor,
E a vizinha é namorada,
Pra chamar de meu amor!
Esconde-esconde e amarelinha,
Bola de gude e bola de plástico.
Trave se faz de tênis!
Bomba em rabo de gato!
Pega-pega e aliança!
Só não sente saudade disso,
Quem é filho de chocadeira,
Ou quem nunca foi criança!