A BOCA
Este corte,
A boca,
Meu melhor açoite,
Sangra palavras.
Este entalhe,
Lábios em detalhe,
Cicatriza beijos,
Sela nossa correspondência,
Decora-se de sorrisos.
Este talho
Quando cala transborda, inunda;
Se fala
Vem a calhar.
Morde o gosto
Pelo qual
Nosso desejo saliva.
Halo da alma,
Hálito da carne.
Se recita
Excita.
Se declama, transforma poetas
em bonecos
Da ventriloqüência divina.
Publicado em Cadernos Negros 29
Quilombhoje, 2006 , São Paulo, pág 171.