A CASINHA DE MEUS PAIS
NOSSA QUERIDA CASINHA
FICOU NO CAMPO SOZINHA
ENTRE OSSADAS DE ANIMAIS.
E A CORJA DE MARGINAIS
DE BANDIDO E DE LADRÃO
QUE DESGOVERNA A NAÇÃO
SERÁ PRA SEMPRE CULPADA
DE UMA CASA ABANDONADA
EM MEU QUERIDO SERTÃO.
MUITAS VEZES BEMCEDINHO
EU VI DAQUELA CALÇADA
AO ROMPER DA ALVORADA
O SOL ABRINDO CAMINHO.
E HOJE O SOL BEM MANSINHO
ESCONDE A BELEZA SUA
NO HORIZONTE RECUA
DÁ UM SORRISO ESQUISITO
LIBERANDO O INFINITO
PARA O PASSEIO DA LUA.
ONDE TEM GENTE MORANDO
TEM ORQUESTRA NO BARREIRO
TEM O GRITO DO VAQUEIRO
QUE CHAMA O GADO ABOIANDO.
QUANDO O DIA VAI CHEGANDO
BEIJANDO A FACE DA TERRA
NA MATA A CORUJA BERRA
CANTA TRISTE UMA CIGARRA
SAI O SOL QUEBRANDO A BARRA
NO ESPINHAÇO DA SERRA.
NUNCA TEM JEITO O SERTÃO
COM GOVERNO VAGABUNDO
ROUBANDO DE TODO MUNDO
SEM FAZER IRRIGAÇÃO.
SE JOGAR ÁGUA NO CHÃO
DESSA TERRA ABENÇOADA
NOSSA GENTE TÃO HONRADA
NUNCA JAMAIS VAI EMBORA
E UM POETA NÃO CHORA
NA CASA DESABITADA.
UMA NUVEM AINDA VEM
PARECENDO UMA CORTINA
FAZER SOMBRA NA RUÍNA
ONDE NÃO MORA NINGUÉM.
A LUA BRANCA TAMBÉM
FICA LÁ NÃO VAI EMBORA
SOBRE A CASA VELHA CHORA
ATÉ O RAIAR DO DIA
DESPEJANDO POESIA
NA CASA QUE NINGUÉM MORA.
NUMA TARDE ENSOLARADA
COM O CALOR SUFOCANDO
PRA QUE O VENTO AREJANDO
A CASA DESABITADA?
E A CANCELA QUEBRADA
FICA FECHANDO E ABRINDO
AS DOBRADIÇAS RANGINDO
NO SEU TRISTE SOFRIMENTO
MAS PRA QUE TANTO LAMENTO
SE NÃO TEM NINGUÉM OUVINDO?
PRA QUE O SOL LOGO CEDO
COM SEU SORRISO BEM FARTO
INVADINDO AQUELE QUARTO
QUE GUARDA TANTO SEGREDO?
E POR QUE EU TENHO MEDO
QUE DESSA CASA VAZIA
POSSA SAIR ALGUM DIA
PRA SE PERDER PELO MUNDO
AQUELE AMOR TÃO PROFUNDO
QUE DENTRO DELA EU FAZIA?
FICA FECHANDO E ABRINDO
AQUELE PORTÃO DA FRENTE
COMO SE TIVESSE GENTE
POR ELE ENTRANDO E SAINDO.
EU TAMBÉM FICO SENTINDO
NO MEU PEITO O CORAÇÃO
IGUAL AQUELE PORTÃO
NUM VAI-E-VEM IMPERFEITO
ACHANDO PEQUENO O PEITO
PRA SENTIR TANTA EMOÇÃO.