Hão de dizer-te, meu amor, que eu bebo
Trazendo n’alma uma aflição dorida,
Uma chaga de amor, uma ferida,
Cuja existência eu mesmo não concebo.
Em quantos tolos a sorrir percebo
Um longo olhar de compaixão fingida;
Pensam alguns que eu bebo pela vida
E que da morte os parabéns recebo.
No entendo sabes que eu procuro a esmo,
Na taça que sustenho algum remédio,
Bebendo pelo nada de mim mesmo.
Pela esperança de encontrar na taça
Uma tristeza que me mate o tédio,
Uma agonia que viver me faça.
Livro: Rimas antigas, Sonetos e Poemas
– Editora Líder pág. 107
Autor: Nunes Bittencourt