OS COVARDES
Naquela manhã, o som da página virada do jornal a devolveu à realidade. Olhou para o marido como quem se dá conta de que sua presença, apesar de real, parecia cada vez mais distante. Entre eles, o peso do silêncio – que se arrasta por covardia – colocava em relevo tudo que não disseram um ao outro ao longo dos anos. Não havia sequer a força de uma tristeza funda. Muito menos a promessa de resgate do poço encharcado de solidão onde sobreviviam. A verdade poderia ser tão dolorosa quanto simples: o amor não estava mais ali. Girou lentamente a colher dentro de sua xícara de café, enquanto o marido virava outra página do jornal.
(*) IMAGEM: Google
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