(Paródia – não formal e não tão burlesca – do soneto “A Felicidade” de Fernando Pessoa)
Só a leve esperança em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Não é mais a existência, resumida,
Que uma breve esperança malograda.
O pesadelo da alma em terra natal enfadada,
Pesadelo que a traz ansiosa e sempre aflita
É que a hora do voo fique sempre adiada
E que não chegue nunca por toda vida.
Essa infelicidade que criamos,
Árvore desgraçada que constatamos
Toda arreada de fétidos pomos,
É indefectível sim: e sempre com ela estamos,
Porque ela está sempre apenas onde a pomos
E sempre a pomos onde nos encontramos.