O Causo da Balêia de Água Dôce

Publicado por: Compadre Lemos
Data: 12/10/2011
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O Causo da Balêia de Água Dôce - Literatura de Cordel Autor: Compadre Lemos - Voz Compadre Lemos e Welson Avelar
       


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O Causo da Balêia de Água Doce
 
Uai... cês já chegô? Tá isperano há muntho tempo? Cês discurpa a demora, mai é qui eu, mais o meu Meu Cumpade Zé Piqueno, nóis chegemo agurinha mês, lá da Praia do Tubarão, adonde nós foi sortá uma balêia qui eu pesquei ainda onte, aqui mês, no fundicasa.

-- Uai, Cumpade Lemos! E tem balêia de água dôce?

-- No Ri Sonfrancisco tem!... Cê querdita não? Antão, senta aí. Senta aí, qui eu vô contá o causo.

E êsse causo, eu quero dedicá pro Meu Cumpadre Valdir Oliveira, lá de Caieiras, no Istado  de Sumpaulo! Meu Cumpade Valdir é pueta, repentista, violêro e editor de Folhetos de Cordel.

Ele é o poprietário da Editora Canoa, qui faz questão de dá oportunidade aos puéta qui tão cumeçano  carrêra!

Antão, procês tudo e, de uma maneira ispicial, pro meu Cumpade Valdir Oliveira,

O Causo da Balêia de Água Doce.

Cumpade, duvida não,
Qui é móde num dá mancada!
Eu pesquei mêm, a balêia,
E num foi in água sargada.
Inda lhe digo: antes fôsse,
Pois balêia de água dôce
É muntho mais compricada!
 
Êitha istóra malcontada!
Ocê dév de tá pensano.
Ô num lhe tiro a razão,
Mais, tomém, vô ispricano:
O Sonfrancisco é ri grande
E, cas inchente, se ispande,
Cuma ocê vê, todo ano!
 
Apois, cê veja, meu mano,
O causo qui assucedeu:
Uma balêia das grande,
Na foz do ri, drumeceu.
Acordô, muitho assustada,
Causo de uma tropa armada,
Qui pru lá apareceu.
 
Um tár Tenente Rumeu,
Do Ingésto Brasilêro,
Quereno testá uns canhão,
Ordenô um tirotêro.
Quano os canhão pipocô,
A tár belêia acordô
Berrano, no disispêro!
 
Foi aquele distempêro,
Quessa balêia acordada!
Ela guinchava de susto,
Dando muntha rabanada.
Na hora da confusão,
A coitada, sem noção,
Se butô pá banda errada!
 
In vez de pegá a istrada
Lá pás banda do arto má,
Ela nadô ri acima,
No Véio Chico, a entrá!
E, na força do seu nado,
Atravessô trêis istado,
Inhantes de isbarrá.
 
Apois, é nisso qui dá
Assustá a Natureza.
Balêia de ri acima
Infrentano as cortentêza!
O bom é nóis, hôje in dia,
Respeitá a Ecologia
E dexá de marvadêza!
 
Botano as carta na mesa,
Móde o causo resumi,
Eu, cá in Mina Gerais,
Nas cabicêra do Ri,
Tava dano uma pescadinha
Cum anzole, vara e linha,
Móde pegá uns lambari.
 
Aderrepente, eu sinti
A vara muntho pesada!
Tinha pegado um trem grande,
Quéra mais de tonelada.
Eu fui puxano cum jeito,
Iscorano, aqui, no peito
A vara, toda invergada!
 
Moço, num lhe conto nada,
Do susto qui eu tomei!
Garrada no anzolin,
A tar balêia avistei!
Sem aquerditá naquilo,
A balêia de mil quilo
Pá fora dágua eu puxei!
 
Mai quano perto eu cheguei,
Eu oiei bem nos zói dela.
Tadinha, tava tremeno,
De susto, tava amarela.
Priguntei:  Dona Balêia,
Pru qui essa cara feia?
Ocê caiu da pinguela?
 
Ela me disse: É balela,
Intriga da oposição.
Tô assustada é cum mêdo
Móde uns tiro de canhão.
Eu nadei pá banda errada
E agora, tô atolada,
Pois caí na tua mão!
 
Sinhô tenha compaxão
E nun quêra me matá.
Eu tenho famia grande,
Oitho fia prá criá.
Seu moço, pru caridade,
Faça um ato de bondade,
E me sórta eu no má!
 
Meu ói garrô marejá
As lágma já iscorreno.
De matá, num deu corage,
E eu fiquei remueno:
Eu perciso qui sortá ela,
Mais é grande a esparrela,
Solução... eu nun tô veno!
 
Aí, chegô Zé Piqueno,
Cumpade meu, camionêro.
Foi logo me priguntano,
Que qui é isso, cumpanhêro?
Cê tá triste, pensativo?
Me diz aí o motivo,
Fartô mulé, ô dinhêro?
 
Eu disse: O Deus Verdadêro
É qui mandô ocê vin cá.
Qui é pá móde nois dois, junto,
Essa balêia ajudá.
Cumpade, cê prestenção:
Vai buscá seu caminhão
Qui nóis tem qui trabaiá.
 
E sem muntho delatá,
Ele trôxe o caminhão.
Butemo a balêia dento
E peguemo o istradão.
Cinco dia viajano,
E nóis já tava chegano
Na praia do Tubarão.
 
Tiremo do caminhão
A balêia, coitadinha.
Já quage morta de sede,
E sem cumê um nadinha.
Butamo a póbe no má
E, ela, inhânt  de nadá,
Falô essas palavrinha:
 
 Obrigado, gente minha,
Ocês sarvô minha vida.
Iscuita, antão, o Deus lhe Pague,
Da balêia agardicida.
Todo mundo agisse assim,
As mardade tinha um fim,
E era mais fáci a lida!
 
Qui bela missão cumprida,
Dá gosto intê de si vê!
Ocês dois seje o inxempro,
A móde o povo aprendê
A respeitá a Natureza,
A num perdê a nobreza,
E os mais fraco  defendê!
 
Cumpade, cê pode crê,
Caquilo quéla falô,
Eu falei cumigo mêrmo:
Num vô mais sê pescadô!
Comprei essa violinha
Qui anda bem afinadinha,
Móde eu sê só cantadô!
 
Jurei a Nosso Sinhô,
Qui é o Sinhô das Realeza,
Cantá pru bem dos que vive,
Lovano toda a beleza
De quem vive sem matá
Sem agridi, sem istragá,
Preseuvano a Natureza!
 
O mundo tá uma tristeza,
Mai a tristeza... quem trôxe?
Foi nóis mês, qui distrói tudo,
Cuma se dono, nóis fôsse!
Cumpade, duvida não,
E nunca isqueça a lição
Da balêia de água dôce!
 
Pois é, Cumpade! Se o sinhô duvidá, o caminhão de Zé Piqueno ainda ta aí fora. Vai lá, abre a porta do baú e sente o chêro de balêia! Eitha, qui tá pió qui  chêro de frigorífio!

Um grande e fraterno abraço pro meu Cumpade Valdir Oliveira, da Editora Canôa!

Ói, Meu Cumpade, ocê continua dano fôça pro Cordel, porque essa cultura tão linda, nóis num pode dexá morrê é nunca!
 
E ocês, vê se nun isquece de vortá amanhã, ta certo? Cês vórta mês, porque... amanhã tem mais
! 
 
Fraterno abraço,
Compadre Lemos.

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Compadre Lemos
Enviado por Compadre Lemos em 12/10/2011
Reeditado em 13/10/2011
Código do texto: T3272525
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